Friday, December 29, 2006

Bom Ano 2007 !





Fotografia: Fabrice Coffrini|AFP 2006
https://news.yahoo.com/

Que todos os nossos desejos mais ternos se realizem!

Convoco aqui, num gesto de mil sons, sábios, fadas e duendes para que se juntem num esforço único, quase divino, de transportar até todos nós a magia de um Novo Mundo - o Universo original.

Que a Terra se espiritualize, deixando o amor fluir por entre todos os seres vivos.

Que os nossos corações se sintam muito felizes junto dos afectos ímpares de todos aqueles a quem queremos bem.

Que a Lua ilumine a alma de todos os que perderam seus entes bem queridos
Que o Sol aqueça as mãos dos que têm frio e nada pedem
Que a paz desça sobre esta Babel que se consome
Que o perdão se faça entre os Homens de todas as vontades.

Feliz Ano 2007

So we keep waiting
Waiting on the world to change
We keep on waiting
Waiting on the world to change.

John Mayer, Waiting on the world to change, Continuum, 2006 Aware Records LLC, YouTube

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores azuis de miosótis*

30.12.2006
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* para minha mãe, suas flores.

Monday, December 25, 2006

Dia de Natal



Igreja da Natividade/ Bethlehem

Fotografia: Kevin Frayer/AP 2006


Natal à Beira-Rio

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó Noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra,
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?


David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988, Editorial Presença, Lisboa 1988


Miosótis (pseudónimo)

fragmentos de uma noite de Natal sóbria e intimista
25.12.2006
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Friday, December 22, 2006

Noite de Natal: tradições





Fotografia: Charles Rex Arbogast/AP
http://news.yahoo.com/photos


Em Portugal, a tradição repete-se um pouco por todo o país, embora nas grandes cidades tudo se passe numa atmosfera essencialmente cosmopolita.

As ruas iluminam-se de lâmpadas translúcidas e cintilantes como auroras boreais. Montras vestidas de vermelho, doirado ou prateado prendem os olhares. O país torna-se feérico por alguns dias!

Esquecem-se os dias tristonhos e gélidos, pessoas enchem os passeios, umas apressadas nas compras, outras apenas no simples prazer de desfrutar desta quadra festiva. Dir-se-ia que as luzes trémulas aquecem os corações mais cépticos e solitários.

No dia vinte e quatro ao final da tarde, toda a família se reúne. Alguns deixam as cidades e partem para o campo. Outros atravessam o mundo para voltar ao seu país, por poucas horas. Fazem-no com a esperança de reviver lembranças de uma vida.

Sensivelmente por volta das vinte e uma horas, a grande família reencontra-se à mesa: bombons de cores e sabores variados para os mais pequenos, frutos secos e cristalizados para os mais crescidos.

A luz das velas imprime uma tonalidade mais intimista, bem adequada à ceia de Natal!

Como entrada, os apetitosos bolinhos de bacalhau com verduras salteadas. Segue-se o tradicional «Bacalhau à Portuguesa»: bacalhau cozido, batatas, couve portuguesa, cenouras e ovos. Tudo, acompanhado generosamente pelo bom azeite, comprado nas lojas de comércio tradicional ou enviado da província por familiares e amigos.

Chega então a sobremesa! Uma enorme mesa, pródiga das mais belas iguarias da doçaria portuguesa: rabanadas, aletria polvilhada e aromatizada com canela, farofas, fios de ovos, sonhos, pudim conventual de ovos... Excêntricos requintes para o paladar!

O célebre Bolo-Rei partilha desta tradição e os mais velhos e apreciadores acompanham-no com um cálice de perfumado vinho do Porto.

À meia-noite, tocam à porta... e o Pai Natal - um familiar disfarçado por trás de uma longa barba branca e vestido a rigor - faz a sua entrada, soltando o tradicional e esfuziante:


- Ho! Ho! Ho!


Os miúdos despertam, e enchem os olhos de estrelas brilhantes. Os gritos de espanto, alegria e excitação espalham-se pela casa. É o momento mais belo da noite! A hora do encantamento!!

Depois, cada um regressa a suas casas...

A mesa deixa-se posta e guarnecida. Dizem os mais antigos que durante a noite o espírito dos familiares desaparecidos regressa para partilhar desta doce reunião.
Há pessoas que saem, percorrendo as ruas frias. Num gesto de fraternidade recatada tentam aquecer a noite dos que dormem à luz da Estrela de Natal!

O frio gela... mas as mãos aquecem nos afectos e os olhos transformam-se em estrelas tremulares de mil tons e transparências de cristais.

Para todos os que poisarem por aqui suas emoções... Feliz Natal!

Miosótis (pseudónimo)

escrito no Natal 2004 
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fragmentos da noite sorvida de ventos glaciares, as luzes na cidade tremulam em maior abundância, o coração esse... som de Diana Drall, Have Yourself a Merry Little Christmas, YouTube

22.12.2006

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Sunday, December 10, 2006

Árvore de Natal




Fotografia: Árvore de Natal em Cristal Murano
http://news.yahoo.com/photos


"Os factos não deixam de existir só por serem ignorados."


J. Sádaba

Aproxima-se com frenesim a época de Natal. As pessoas, e as famílias que mal têm tempo para se visitar, falar e conviver, consideram que tapando um ano de ausência se poderá fazer a união de uma noite. Mentira! Ilusão!

O sentimento de partilha agoniza! Já quase não existe!

Cada ser voga ao saber da sua corrente que se transforma num caudal de imensas proporções. Nele só flutua a solidão feita Eu! E aí vai o Eu lutar muitas vezes com arrogância querendo a todo o custo anexar seu caudal àquele caudal suave, pequeno, sereno que percorre com dificuldade, mas tranquilamente seu caminho.

Não somos pequenas correntezas que podem ou não ser, consoante os dilúvios pessoais, inundadas segundo o engrossamento do curso das correntes maiores.


Há pequenos estuários pacíficos e calmos que apoiam como refúgio as águas mais extenuadas. Recompostas, elas seguirão seu curso com respeito, recato, em silêncio.


Os seres tornaram-se egoístas, egocêntricos, enormes no seu umbigo.

Assim, ao juntar-se por leves horas, indubitavelmente, à mínima pressão, sopro de vento, aragem de palavras, o suposto afecto de amizade ou afecto familiar, parte-se e desfaz-se em mil pedaços.

Tal como esta belíssima árvore de Natal elaborada minuciosamente em peças multicores de cristal Murano, um dos mais raros e distintos do mundo.


Cada peça existe por si só, tem um valor único e não acresce sua beleza apenas porque agregado a outras peças de semelhante série. As diferentes cores são já símbolo de identidade.

Morre a translúcida afeição familiar! Tirando raras excepções...! Meu respeito e muita admiração vão para esses oásis familiares.
Existe quase sempre o poder do Eu que soberbamente se quer impor!

Não entrem na correria da compra de presentes que nada representam se não houver sincero e singelo afecto. E só os dêem se com eles for todo o carinho sentido por vós e retribuído pelo ser que os recebe.

A partir do momento que as sociedades se deixaram invadir pelo contra valor do consumismo, esquecendo a verdadeira simbólica da fraternidade, a quadra do Natal - tradição, afecto, calor humano - sobrevive a muito custo.

Tenham pacíficos, leais e carinhosos dias de festas!

Distingam-se pela imensidão do afecto verdadeiro!


Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores

10.12.2006


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Sunday, December 03, 2006

Copying Beethoven - o filme






Copying Beethoven
Agnieszka Holland, 2006
https://www.imdb.com/



"Music is the language of God!
Musicians are the closest to God as men can be. We hear His voice. We read His lips."


Copying Beethoven

Copying Beethoven estava no meu roteiro de fim de tarde de cinema, há uma ou duas semanas.

Fugindo da azáfama consumista e desatinada que percorre o país nesta época pré-natalícia, procurei o filme cuja temática não atrairia o grande público.


Percorrer musicalmente alguns dias da vida de
Ludwig van Beethoven, mais propriamente os últimos três anos, era sem sombra de dúvida uma pausa que me agradava plenamente! Nesse silêncio feito de enleio estético, aventrei-me nos sons de excertos musicais de obras suas, num recolhimento e introversão salpicados por excelente diálogos.






Anna Holtz/ Diane Kruger
Agnieszka Holland, 2006


Traduzido como "Corrigindo Beethoven", o que só por si demonstra alguma falta de cultura musical erudita por parte dos tradutores ou empresas que à legendagem de filmes se dedica, 'copying' deriva da palavra 'copyiest', o que traduzida para língua portuguesa dá origem à palavra 'copista', termo técnico para pessoa que copiava à mão as partituras dos grandes mestres e compositores.

Assim, já se atraiçoa sem querer a intrínseca intenção da realizadora que afirma:


"The journey during the film is to learn about the music, but also to learn about the man... to come closer and closer to the music and to the man."

Agnieszka Holland






Anna Holtz/ Diane Kruger
Agnieszka Holland, 2006


A música é sem dúvida a personagem principal do filme onde o actor Ed Harris incarna com grande mestria os últimos três anos [1824-1827] da vida de Beethoven, mais propriamente os derradeiros que este dedicou à conclusão da 9ª Sinfonia na qual trabalhou durante dez anos.

"He changed the very notion of music, destroying rules, conventions [...] bombastic, brilliant, generous, unforgiving, yet kind hearted, Beethoven ruled over the cultural landscape of Europe in the first quarter of the 19th century."
Agnieszka Holland






Ed Harris & Diane Kruger
Agnieszka Holland, 2006


A incrível caracterização e sublime interpretação de
Ed Harris quase nos leva a crer estarmos diante do próprio Beethoven.

Outra coisa não seria de esperar de um actor que personificara  em Pollock a figura emblemática da pintura norte-americana -
Pollock - outro ser verdadeiramente dilacerado no seu acto criador.

Copying Beethoven transmite-nos a pungente, silenciosa e desesperada solidão de Beethoven, através dos olhos de Anna Holtz, melhor aluna de Composição do Conservatório de Viena, uma personagem ficcionada a partir de componentes da época, aqui interpretada pela actriz Diane Kruger

Apesar de já se atravessar o século XIX, ainda não era reconhecido à mulher o direito e dom de criar, quer em música, literatura ou outra actividade artística. 

Anna Holtz demonstra aqui a incrível vontade de vencer pelo seus próprios méritos como criadora mulher, vendo em Beethoven a sua oportunidade maior de aprender, e se afirmar num campo que só era permitido aos homens.


"I may be a woman but I am the best student!"


Copying Beethoven

Em impressionante diálogo, somos transportados à visão divina da música.

"Musicians are the closest to God as men can be.
We hear His voice. We read His lips."


Copying Beethoven


Nas magens de incrível beleza cénica, numa fotografia cuidada que realça tantas vezes o divino da criação, sobressaem os momentos de precisão e perfeição da arte de copista musical, as fúrias de Beethoven em revolta permanente contra um Deus que lhe deu um dom tão divino e que depois lhe retira a capacidade de se ouvir, a profunda tranquilidade do mestre nos actos de composição, quer compondo ao piano ou violino, quer em momentos de retirada inspiração no silêncio da natureza onde se refugiava para percepcionar as vibrações que esta lhe transmitia... tudo isto até se chegar à première da 9ª Sinfonia.

Guiado pelos olhos e pelas mãos de sua fiel copista, que conhecia de cor a partitura, dando-lhe os tempos necessários para que frente à orquestra, como maestro, pudesse executar a sua obra-prima.


"I will help you, I will stand where you can see me, I'll give the bite for you."



Copying Beethoven






Anna Holtz/ Diane Kruger
Agnieszka Holland, 2006


E Anna Holtz, saindo do meio da orquestra, veio afectuosamente virar Beethoven para o público, para que este visse as pessoas a ovacioná-lo de pé. e sentisse as vibrações dos aplausos.

"You are the key to my release."

Copying Beethoven

Se mais não for, valerá a pena ver para ouvir a interpretação da 9ª Sinfonia, interpretada pela Orquestra Sinfónica Kesckemét Húngara com alguns instrumentos musicais do princípio do século XIX tocados com arcos da época (violinos e violoncelos) o que dá, sem dúvida, o timbre perfeito da música beethoviana.

A não perder o trailer e as entrevistas no sítio oficial
Copying Beethoven

O filme esteve representado em dois conceituados Festivais de Cinema:


Festival Internacional de San Sebastian (2006)

Toronto Film Festival Canada (2006)


No final, todos os espectadores permaneceram religiosamente ouvindo até ao último excerto musical do genérico.

Não houve pipocas!

Miosótis (pseudónimo)


03.12.2006
update 22.01.2024
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fragmentos da noite, som Ludwig van Beethoven, 7ª Sinfonia in A major, Op. 92, la major/A-dur, Allegretto, Sinfonia Varsovia, maestro Yehudi Menuhin,Warners Classics, 2003


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Monday, November 27, 2006

She: uma canção de coração



Fotografia: Valentina Petrova | AFP




She
May be the face I can't forget.
A trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay.
She may be the song that summer sings.
May be the chill that autumn brings.
May be a hundred different things
Within the measure of a day.

She
May be the beauty or the beast.
May be the famine or the feast.
May turn each day into a heaven or a hell.
She may be the mirror of my dreams.
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell

She who always seems so happy in a crowd.
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry.
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past.
That I'll remember till the day I die

She
May be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I'll care for through the rough and ready years
Me I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is
She, she, she

Elvis Costello, She

Uma canção que ficou irremediavelmente suspensa em minh'alma...



Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

27.11.2006


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Saturday, November 18, 2006

Fantaisie d'Automne





Kenzo
Fotografia: Remy de la Mauvinière | AP

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L'amor n'est pas seulement un sentiment,
il est aussi un art!

Honoré de Balzac

Monologue de la Solitude

La solitude on l'a dans le coeur, pas au jour le jour.

Si on te dit de rire et tu n'arrives qu'à sourire, alors tu as une âme solitaire. Et tu te dis:

- Fuis le temps, empêche le vent, regarde le ciel, dessine du bout des doigts une étoile…

Eh! Oui! Pourquoi pas! Et tu prends ton coeur, tu ouvres la petite fenêtre et tu commences à illustrer ta vie.

- Que vois-tu?

- Un ciel immense, une mer d'argent, de la musique au timbre magique, des mots de tendresse, un baiser douceur, la profondeur.

- Tout ça!?

- Oui!

- Et quelqu'un écoute ton chant?!

- Non! Personne!

- Mais il y a des gens qui croisent ton chemin, non?!

- Si! Mais ils ne me voient pas! Ils marchent distraîts.

Ils ne regardent que l'immédiat.
Pas les parfums.
Rien que des odeurs!

C'est ça la solitude…



Miosótis (pseudónimo)

©texto original
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fragmentos da noite com flores

18.11.2006

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Sunday, November 12, 2006

O Perfume : o filme, o livro






Perfume - The story of a murderer
Imagem: http://i25.photobucket.com

"Há uma força persuasiva no perfume que é mais convincente do que as palavras, do que a aparência visual, do que o sentimento e a vontade."

in O Perfume - História de um assassino, Patrick Süskind

Toda a leitura, mesmo em silêncio, é fantasiosa de sonoridades! As palavras ressoam, soltam-se em timbres que ecoam em nós como aromas de sonho e maravilhamento!




O Perfume
Patrick Süskind
Editorial Presnça, 1994

O Perfume, romance do escritor alemão Patrick Süskind é um livro que permaneceu sempre no meu imaginário. Estranho e controverso, puro prazer de ler uma história envolta em fragrâncias.

Expressões me aromatizaram! Outras nuances do ser humano chegaram até mim!

Também eu não sou a mesma. 
Descobri cambiantes que, em outros momentos, não se mostrariam tão motivadores para se colarem aos meus sentidos.


A história da solidão humana impregnada de luxuriantes fragrâncias, pétalas de flores poisadas, transpostas para os odores que passam através do corpo e que só provêm da essência - a alma.





Perfume: The Story of a Murderer, 2006

E tudo isto para chegar ao filme - O Perfume - realizado por Tom Tykwer (2006) esplendorosamente narrado por John Hurt. Um dos mais talentosos actores.

Novas gradações, subtis aromas, grandes ensinamentos, perfumes que se soltaram em tons d'alma e deixaram os olhos dos espectadores inundados de beleza, apesar do macabro, num jogo de imagens que o realizador soube impregnar de estética.

Aspirei e ouvi todas as tonalidades, o ar que respirava, a cadência da brisa que aflorou, me tocou, atravessando-me numa dicotomia entre macia, aterradora, quente, gélida, acariciadora, agressiva.




Jean-Baptiste Grenouille/ Ben Whishaw 
Perfume

Foi uma nova leitura! Fascinada, segui suspensa da imagem odorífica deslumbrante, pungente, de um ser tão humanamente triste e solitário.

E senti os odores, os aromas envolventes, a cada inspiração profunda, oscilante. Sinestesias de cheiros acres, ácidos, suaves, doces, enriquecidos com a especiaria dos sentidos. 

O aroma de uma alma imensamente só ficou suspenso em mim sussurrante, perfumada pela sua imensa dor!



Perfume

Fotografia de infindável perfeição estética, exuberante, visual e pictórica de Frank Griebe.

E assim passo da leitura para a música, um mundo de êxtase transbordando em sons, melodias, esparsas de profunda sonoridade.

Aspersão de fragrâncias visuais e sensitivas de incomensurável leveza.

As músicas, as leituras, os filmes são indissociáveis. Sonoridades, aromas, sentires longínquos de litanias e reminiscências.

(...)
o perfume azul de um corpo adivinhado
ou um oásis de silêncio a brancura de um lírio
que nascesse do seio do espaço

Branca dourada ou transparente

flexível como a água ou uma folha oval
apenas esboçada vacilando
luz misteriosamente pura
inacessível já voando para o alto.

António Ramos Rosa, Antologia Poética, Publicações Dom Quixote, 2001


Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite, música de Tom Tykwer, Johnny Klimek e Reinhold Heil, executada pela Orquestra Filarmónica de Berlim

12.11.2006
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Sunday, November 05, 2006

O Ilusionista : filme





The Illusionist
Neil Burger, 2006
https://www.imdb.com/


"He's a Magic Man."

Karen Durbin (
ELLE,fr)


Sábado chuvoso. Nada melhor do que uma sessão de cinema. Entre música, livros e cinema, eis as três sombras por onde divago nestes silêncios da vida.

Apressadamente, passei os olhos pelo sítio web oficial do filme The Illusionist e logo dois actores - Edward Norton e Paul Giamatti - me convenceram de imediato. Sem hesitação!

Paul Giamatti, intérprete do bem recente The Lady of the Water, Edward Norton em papéis controversos, de grande qualidade e nobreza de interpretação. Um porte esplendoroso!

Uma fábula elegante baseada na obra Eisenheim The Illusionist do premiado Pulitzer Stephen Millhauser por onde perpassa a arte, o amor e a intriga política na Viena Barroca dos Habsburgs, no virar de 1900.

Uma alquimia latente desde o primeiro encontro de um ilusionista de origem humilde com uma jovem duquesa. Um e outro vão deixar seus corações irremediavelmente presos num amor proibido.





Edward Norton
The Illusionist
Neil Burger, 2006

https://www.imdb.com/

Afastados durante anos, voltam a cruzar-se mais tarde, quando ele volta à cidade, numa trama que ultrapassará toda a previsibilidade dos espectadores pelo tom convincente, majestoso, enigmático que Edward Norton imprime tão naturalmente à personagem.

O jovem ilusionista de quem se desprende um imenso magnetismo, obtido segundo uma das lendas, ao cruzar-se com um mago, durante um passeio campestre, consegue convencer o ambicioso inspector policial - Paul Giamatti - para quem a magia e o ilusionismo são, ao mesmo tempo, um forte atractivo e fonte de entretenimento nas horas de ócio.

Um filme cativante, numa adaptação talentosa de Neil Burger, realizador de Entrevista com o Assassino (2002) construída num elo que gira em volta de ingredientes tão fascinantes como romance, intriga política palaciana, mesclados de hipnose, com muitos conceitos freudianos, e suspense, numa senda de pistas habilmente encadeadas, e encontros sabiamente forjados.





Edward Norton
The Illusionist
Neil Burger, 2006

A noção de tempo que este mágico apresenta a partir de uma laranja que depois de extraída a semente, se transforma numa laranjeira em pleno representação é espantosamente filosófica e deixa-nos pensativos sobre o que todos nós fazemos do tempo ou sentimos acerca dele.

O lenço de mão que esvoaça seguro por duas cintilantes borboletas - a simbólica da borboleta tem uma forte incidência amorosa na trama - até à espada do herdeiro, em incursão sobre Excalibur que já mereceu um filme, ligado às lendas arturianas, Tudo isto faz deste filme um incrível momento de magia, beleza, atravessado sempre pelo mistério e magnetismo que passa da audiência do teatro local, e para a sala de cinema, já que filmado, subtilmente, em luz muito ténue e difusa, até ao momento do desvendar da verdade.






Edward Norton & Jessica Biel
Edward Norton
The Illusionist
Neil Burger, 2006

Aí, a tela inunda-se de luz num ambiente contrastante, campestre, chamando à realidade os espectadores, como se despertados fossemos de um sono hipnótico onde o encantamento prevaleceu num toque de magos.

De assinalar a banda sonora do renomado compositor de música contemporânea, Philip Glass, sóbria, minimalista, realçando mais o suspense que atravessa todo o filme. Sem esquecer a fotografia esplendorosa de Dick Pope num jogo contrastante de claro/escuro.

"Romantic... smart... gorgeous!"

Bob Mondello,
NPR


Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

4/5.11.2006

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