Monday, April 27, 2015

Ah! Mudem-se os tempos




 UNESCO world heritage site of Bhaktapur
Nepal
credits: Omar Havana/Getty Images


Ah, abram-me outra realidade!
Quero ter, como Blake, a contiguidade dos anjos
E ter visões por almoço.
Quero encontrar as fadas na rua!
Quero desimaginar-me deste mundo feito com garras,
Desta civilização feita com pregos.
Quero viver, como uma bandeira à brisa,
Símbolo de qualquer coisa no alto de uma coisa qualquer!

Depois encerrem-me onde queiram.
Meu coração verdadeiro continuará velando
Pano brasonado a esfinges,
No alto do mastro da visões
Aos quatro ventos do Mistério.
O Norte — o que todos querem
O Sul — o que todos desejam
O Este — de onde tudo vem
O Oeste — aonde tudo finda
—Os quatro ventos do místico ar da civilização
—Os quatro modos de não ter razão, e de entender o mundo

Álvaro de Campos, Ah, abram-me outra realidade
Poesia , Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002

in Banco de Poesia, Casa Fernando Pessoa


Não sei o que escrever. Tanta desolação e luto

Mal refeita de uma dor, a dor do mundo. Um olhar sem pensamentos. 


A dor. A tristeza.


Pressentimento de almas ausentes em diferentes paisagens.


Nepal. Mar Mediterrâneo. Paz. Eternidade. Preces.


Ah! Abram-me outra realidade


Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores

26.04.2015

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Friday, April 10, 2015

Minha amiga distante




créditos: sem identificação, 2008


Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta  e do fragor terreno. (...)

Antero de Quental, A um poeta

Noite sem estrelas, um céu de pranto feito, enevoamento do olhar, espaço sem murmúrios. Só tristeza.

O silêncio pôs-se na paisagem. Bruscamente. Como onda que abre túneis sulcados de lágrimas. E as flores perdem seu encanto. 

E no entanto, dia de intensa primavera, noite de lua cheia, ante-véspera de domingo de Páscoa.

As flores de primavera deixaram de ser coloridas. E as flores perderam a alegria.

A irmã que não tive. A amiga presente em muitos momentos. Companheira de desabafos. Mútuos.

E partiu. De mansinho, sem uma palavra, desfez-se num suspiro. Na ausência dos que amava. Apanhada de surpresa.

Sensação desse desconsolo se queda em meu olhar, vago, desolado. 

Minha alma deambula, ainda mais orfã, neste dia-a-dia, lacrimosa, procura algum sentido na ausência do abraço. 

O caminho que atravesso é de tristeza. Mais um dia de silêncios. E uma noite de pensamentos cerrados.

Minha amiga distante.


Miosótis (pseudónimo)

09.04.2015
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