Friday, April 23, 2010

Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor 2010




Foto: Maureen Bisilliatt
Instituto Moreira Sales

(À memória de Soame Jenyns,
 lembrado depois do poema escrito)


Às vezes tenho ideias felizes
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despejam…

Depois de escrever, leio…
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu…

Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?



Álvaro de Campos
18.12.1940

in 
Poesia , Assírio & Alvim, ed. Teresa Rita Lopes, 2002



No Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, um desejo profundo para que todos tenham o direito inalianável de Saber Ler num futuro muito próximo.

Miosótis (pseudónimo)


Fragmentos da noite, uma flor por um livro?

23.04.2010
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Thursday, April 15, 2010

Alain Resnais? Incontrolável




Poster Les Herbes Folles
Alain Resnais


"Resnais laisse pousser l'herbe folle de son inconscient."

Jean-Luc Douin
Le Monde, 21.05.2009

O final de tarde fez-se cinzento, atmosfera estranha. Apetecia-me uma sessão de cinema. Passei os olhos pelas  salas de exibição e deparei-me com o filme de Alain Resnais Ervas Daninhas

Tempo ideal para ver um filme de autor! Sentada numa sala estúdio, música ambiente jazz, afundei-me na cadeira e esperei pela clássica escuridão sob ecrã luminoso. Um momento muito nosso, não é mesmo?

Baseado no livro L'Incident de Christian Gailly, o filme é uma adaptação totalmente livre! Como que percorrido por um vento de loucura, como aliás são as personagens principais, Georges Palet, um aventureiro do imaginário, e Marguerite Muir, uma mulher quase diferente! 

Um casal improvável, absurdo, numa história que pode ser vista como um exercício cinematográfico sobre alguns devaneios, pulsões incontroláveis que se escondem, tantas vezes, na cabeça de todos nós. 

Nada se poderia ter passado entre estas duas personagens, mas os acasos do amor não se encomendam! Talvez como essas "herbes folles" (a expressão francesa é bem mais elucidativa do que  versão portuguesa, já que distorce a real intenção do autor), que crescem livres e soltas nos interstícios de um pedaço de betume esventrado.

Resnais aponta as nossas dificuldades em exprimir os nossos anseios, em fazer coincidir os nossos imaginários, enfim, todos os desencontros. A eterna busca da alma gémea?



Les herbes folles/ Studio Canal

Num filme surrealista, com recurso aos jogos de palavras, aos diálogos com duplo sentido, onde a voz interior do atormentado protagonista entra em diálogo com a voz off de um divertido narrador.

Percorremos com Resnais várias referências do cinema, até o beijo hollywoodiano sobre fundo sonoro do genérico da Twentieth Century Fox e a palavra Fin sobreposta, que não é coincidente, de modo algum, com o final do filme! Um adorável devaneio cinematográfico.

O realizador de Providence, Hiroshima mon amour ou o alegre On connait la chanson oferece-nos uma diversão, só pode! que se cruza com o simples prazer de ir ao cinema.

À quatre-vingt sept «printemps», et si Alain Resnais continuait de se sentir ­comme une «herbe folle» poussée sans rime ni raison au cœur du cinéma français ?

Le Figaro, Nous sommes tous des herbes folles
04.11.2009

O filme é um maelström de  décors encantatórios - ressalto o interior do apartamento de Marguerite - ruas cintilantes, um universo de cores esplendorosas, onde sobressaem os verdes, turquesas, vermelhos, ao bom estilo Broadway.

Nesse universo, a vida parece um romance, o espírito vagueia, ao som de improvisações jazzy magníficas, onde não faltam as elegias aos livros.

"Lire n'a jamais tué personne. Au contraire, ça aide à vivre"



Alain Resnais & Sabine Azéma/ Studio Canal

Enfim! Um prazer para os ouvidos e para o olhar com os actores fétiche de Alain Resnais, o indefinível André Dussollier e a inigualável Sabine Azéma que se degladiam divertidos no picaresco das suas personagens!

"Quand on sort du cinéma, plus rien ne vous étonne. Tout peut arriver avec le plus grand naturel "

... faz o cineasta dizer a uma da suas personagens! Não acham uma óptima razão para lá entrar?

Aconselho vivamente, neste tempo de cinza integral. Um exercício de estilo bem juvenil que valeu ao cineasta de 87 anos o Prix Exceptionnel du Jury no Festival de Cannes 2009.

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

15.04.2010
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Saturday, April 03, 2010

Silêncios !





via União Budista 


O silêncio é o mais precioso dom do ser humano! Deixa que oiçamos a voz da alma! Não é a essência a mais profunda partícula do Ser? 

O estar só pode sentir-se bem, quando a pressente pelo silêncio que se faz em  volta. E mais do que nada, dentro de nós! 

Há anos que venho contactando com o meu silêncio ... e sinto-me bem! 

As pausas não são música? Então o silêncio só pode ser música! A mais bela, porque a interioridade está lá por inteiro.

Sei o que é o contacto com a fragilidade física de um ser a quem amamos! 

Esses momentos nos fazem reflectir ainda mais, se possível, na trivialidade do quotidiano da vida. E, por vezes, nessa reflexão, ouvimos os nossos gritos mudos.

Perante a serenidade do gesto que aceita o leve poisar da flor, emudecemos. E ficamos assim a ouvir esse silêncio harmonioso.

Que esta meditação perfeita entre a beleza do olhar e o silêncio da alma nos traga paz para o encontro diário com o nosso eu.


Miosótis (pseudónimo)

Fragmentos da noite com flores
(introspecção de Páscoa)

03.04.2010
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