Sunday, March 21, 2021

E no Dia Mundial da Poesia

 



Blue bird tulips
Robbin Rawlings


E há poetas que sãp artistas

XXXVI

 

E há poetas que são artistas

E trabalham nos seus versos

Como um carpinteiro nas tábuas!...

 

Que triste não saber florir!

Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro

E ver se está bem, e tirar se não está!...

Quando a única casa artística é a Terra toda

Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.

 

Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira.

E olho para as flores e sorrio...

Não sei se elas me compreendem

Nem se eu as compreendo a elas,

Mas sei que a verdade está nelas e em mim

E na nossa comum divindade

De nos deixarmos ir e viver pela Terra

E levar ao colo pelas Estações contentes

E deixar que o vento cante para adormecermos

E não termos sonhos no nosso sono.


Alberto Caeiro, E há poetas que são artistas, O Guardador de Rebanhos,

in  Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa, Ática, 1946 (10ª ed, 1993



Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores


21.03.2021

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Saturday, March 13, 2021

Vem aí a Primavera com a flor da ameixieira !


 


Flor da ameixieira (baika)

 テーマ:花と自然


"Quando a velha ameixeira se abre, de repente, surge o mundo das flores desabrochando. No momento em que surge o mundo das flores desabrochando, a primavera chega.

Há uma única flor que se abre em cinco pétalas. Nesse momento de uma única flor, há três, quatro e cinco flores, centenas, milhares, miríades, bilhões de flores –flores incontáveis. Essas florações não são guarnecidas de um, dois ou incontáveis ramos da velha ameixeira. 

Uma flor de udumbara e flores de lótus azul são também um ou dois ramos das flores da velha ameixeira. Florescer é a oferenda da velha ameixeira.” 

Eihei Dogen, (永平道元)
in Plum Blossoms (Baika) 1200-1253
tradução do japonês medieval





Um velho tronco de ameixeira
pintura: Kaz Sensei

Eihei Dogen, budista japonês, e meste zen diz que quando o velho tronco da ameixeira, retorcido e envelhecido floresce, mesmo que ainda seja Inverno, ao vermos a flor da ameixieira, compreendemos que a Primavera está a chegar.

A flor da ameixieira (baika) brinda-nos com o poder da vida, ao sobrevivermos ao Inverno. Liberta uma fragrância pura, após suportar o ascético frio de Inverno, e enche-nos a alma de esperança e luz.

A doce e delicada flor da ameixeira aparece no final de Janeiro ou Fevereiro, meses antes da flor de cerejeira (sakura). Lembram? Outra floração simbólica.

No filme O Último Samurai há uma passagem alusiva a sakura, de grande significado. O renascer para além da morte.

Mas voltando a baika. Ao contemplarmos a flor da ameixieira vem-nos logo a imagem da Primavera. A nossa mente sente que a Primavera rompe do Inverno, como tentando libertar-se dos momentos mais sombrios. Tal como nós.

Este maravilhoso ensinamento zen, que de forma sucinta nos transporta ao nosso íntimo mais sensível, deve ser contemplado em toda a sua profundidade. 

Eihei Dogen em Plum Blossoms (baika) transmite-nos no néctar da sua beleza poética, um ensinamento meditativo delicado. O momento zen.

Que, em todos os momentos, tenhamos a força de romper com o Inverno que este ano foi tão rigoroso em tantos aspectos. E despertemos nossa mente para algo de belo que se aproxima.  

Sintamos que a Primavera com a sua luz e força, está em nós! 

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

13.03.2021
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