Saturday, January 24, 2015

E hoje fez-se alegria





Street Art

E hoje fez-se alegria. Sol entrando pelas janelas, brilhante, desde a manhã. Sol mais quente. E céu azul! 

Mum! Que bom abrir a varanda e aspirar o sabor da temperatura tão amena. E saio lá fora. O café tem um outro sabor. Sorvo por curtos gestos, usufruindo do aroma que se solta. Livre.

Saúdo o sol. Recolho-me, olhando lá longe o horizonte. Em paz.

Baixo-me para as plantas. Retiro as folhas secas, húmidas mas sem vida. A chuva, o gelo. Sabe-me bem mexer neste pedacinho da natureza pendurada na cidade. Trato-a com carinho. A natureza.

Olho as gaivotas, longínquas. Tornaram-se citadinas. Um ou outro pássaro voa mais próximo, ainda descrente de uma primavera fora do tempo. Sereno.

E dou por mim afagando as folhas novas verde-água tenras que teimam em nascer, enquanto sigo o pássaro até o perder de vista. Lá bem longe.

2014 foi um ano triste, duro mesmo. Eu sei - me dirão - duro é ter fome e não ter que comer, ou ter frio e não ter onde dormir. Eu sei, sou privilegiada.

Então travo meu queixume. E olho de frente este sol que me invade. Respiro. Profundamente. Absorvo o que a atmosfera me doa.

Hoje há sol, de novo! E fez-se alegria.


Ainda bem que sempre existe outro dia.

E outros sonhos.
E outros risos.
E outras pessoas.
E outras coisas.

Clarice Lispector

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos de uma manhã com flores

24.01.2015
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Wednesday, January 07, 2015

E chega o dia




credits : Jodi McKee

E chega o dia em que temos que desmontar a árvore de natal. É um pouco triste. Habituámo-nos a ver a sala mais alegre, luminosa. E quando chegámos a casa ao final do dia, fugindo do frio gélido que se faz sentir lá fora, é bom ver aquele cantinho iluminado, as luzes que ligam e desligam, imprimindo um briho mágico às noites de Dezembro. 

A sala vai ficar mais triste. dir-se-ia mais vazia, menos aconchegante. E o acto em si é tristonho, é como o desfazer de um sonho que durou até ontem, noite de Reis.

E o pior, é mesmo retirar um a um os enfeites vermelhos, os laços doirados, ver o chão, as mãos, as roupas cheios de brilhantes. Instala-se assim uma pequenina nostalgia no olhar. 

depois fechar os ramos, melhor hastes, despidos, solitários, que se vão dobrar para que o pinheiro possa caber de novo na caixa de cartão. Nem sempre fácil fazer a árvore entrar de novo, ficar tristemente aguardando até ao próximo Natal.  E as luzes? Tarefa difícil dobrar os fios, dado que a siamesa que por aqui habita, se entretém, emaranhando-se neles aos saltos, com divertida alegria.

Fica tudo demasiado triste a partir de hoje. Já uma pessoa se habituou a chegar a casa e a ver aquelas luzes que piscam tornando a sala toda imponente, mais quente.

Logo ao final do dia, quando regressar a casa e abrir a porta, não verei as luzes reflectirem-se nas paredes, iluminando até o hall da entrada.

É por isso que  não gosto muito da noite de reis. Embora a simbologia seja muito apelativa.  Marca a data para católicos, e ortodoxos, o dia para a veneração aos Reis Magos, que a tradição surgida no século VIII, converteu em Melquior, Gaspar e Baltazar.


credits: non-identified (?)

Lá comi os vagos de romã que deveria ter sete bicos, mas não encontrei quando entrei apressadamente no supermercado, amontoado de gente. A euforia das lojas e supermercados ainda não acabou? 

Pois a romã, segundo a tradição, deverá ter sete bicos, para os mais supersticiosos, para se ter dinheiro todo o ano, ou pelo menos, para que o dinheiro não falte. 

Miosótis (pseudónimo)

07.01.2015
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