Sunday, September 30, 2012

Dia Internacional da Música




Georges Braque

Há talvez dois, três anos, quatro anos, que não assinalava aqui este dia. Não por esquecimento. Apenas outros momentos me ocupariam ou até a ausência.

Mas hoje aqui estou. Cada dia é dia de música, eu sei. Sem ela, seríamos muito mais solitários, tantas vezes sem rumo. Mas a música apazigua-nos o olhar, o pensamento solta-se e deixamos de lado as tormentas de alguns momentos de desassossego.

Apenas pretendo homenagear todos os músicos, esses seres 'divinos', inspiradores do nosso quotidiano. Da vida.





“Às vezes, ela saía, logo a seguir, caminhava na rua, tocando apenas mentalmente, para não se deixar interromper. Andava pelo meio das casas e ouvia ouvia (...) As árvores balançavam os ramos, e os carros passavam, as pessoas cruzavam-se com ela, mas não a interrompiam. Só quando chovia ela se abrigava debaixo de uma varanda ou no vão de uma porta, parava mentalmente de tocar e fechava o piano.”

Teolinda Gersão, Os Teclados
Publicações Dom Quixote, 1ª edição 1999



Miosótis (pseudónimo)

01.10.2012

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Sunday, September 09, 2012

Paisagens narradas




Vista para o mar | Costa do Oeste
Fotografia: Francisco Mendes


"Esse período pode ser muito reconfortante e melancólico. Reconfortante porque todas as lembranças e cicatrizes assentam, são processadas pela memória, narradas a nós próprios devagarinho, encontram um lugar na organização da cabeça. Melancólico exactamente pelo mesmo motivo. Esse é um período em que se contempla um tempo que, ali, se sabe com muita certeza que não voltará."

José Luís Peixoto, O vagabundo regressa a casa*


Depois de umas curtas férias pela Costa Oeste que não revia há algum tempo, eis-me de volta a este espaço que continuo a querer partilhar, embora com pouca assiduidade, eu sei.



Parque D. Carlos I
Foto: Miguel de Azevedo e Castro


Foi bom! Lugares 're'visitados trazem sempre à memória fragmentos de vida que guardamos. E apesar de vivermos num mundo em que informação é uma constante, o nosso cérebro, tal como o poeta escreve, processa essas lembranças. E cada olhar, som, aroma, despoleta de imediato a narrativa poética.

Percorri alguns locais, saltitei entre as imensas praias que esta costa nos oferece,  com paisagens deslumbrantes, quando vistas do alto, e algumas cidades que as autoestradas deixam longe do olhar.

 

Grande Auditório CCC | Caldas da Rainha




Pela foto, reconheceram de imediato Caldas da Rainha. Uma cidade que cresceu, sem dúvida. Um moderno Centro Cultural e Congressos que visitei,  sem ter acesso a este belíssimo Grande Auditório. Nenhum concerto estava agendado para esta época do ano.



Museu José Malhoa | Parque D. Carlos I


Rumei então até ao Museu José Malhoa perfeitamente enquadrado neste sereno e lindo parque, abrindo portas sobre o lago e mostrar a maior parte da obra do seu patrono, bem como uma colecção importante de pintura e escultura dos séculos XIX e XX. 

É considerado 'o museu do naturalismo português'. Como se pode constatar, não poderia a temática estar mais de acordo com o espaço onde se insere.

Para além da arte, dois aspectos dignos de realce, vindos, para mais, de um museu de 'província': a disponibilização de um vídeo com língua gestual portuguesa, bem como uma brochura em braille.



Mosteiro de Alcobaça
Foto: Autora© (via Android)

É evidente que não poderia deixar de voltar a Alcobaça, percorrer aquelas ruas estreitas, empedradas, bem medievais. E de revisitar o Mosteiro de Cister. Uma sensação de finitude, de recolhimento cai sobre nós. Como se num estado de contemplação meditativo, sem preces. 



Túmulo Dom Pedro | Mosteiro de Alcobaça
Foto: Autora©  (via Android)

Impensável não parar junto de Pedro e Inês. Interessante, jazia Pedro quase abandonado, enquanto Inês, estática, se via rodeada de um enorme grupo de turistas italianos que seguiam atentamente toda a história da infeliz Inês.



Senhora da Assunção | Mosteiro de Alcobaça
Foto: Autora©  (via Android)

Mas foi esta imagem que me deslumbrou. Poisada num dos pedestais laterais, quase por trás do altar central, sobressaia do peso da pedra que a circundava. Uma serenidade nos gestos, a beleza da madeira esculpida, a arte da estatuaria portuguesa do século XVII.

E foi tempo de regressar...

"A casa está exactamente como ficou. (...) Então, antes de desfazer a mala, apetece sentar no sofá, senti-lo. 
(...)

Então, a casa é mesmo casa. O corpo recupera segurança, (...) A casa é como aquele lugar em que não podíamos ser apanhados quando brincávamos à apanhada. A casa é como um abraço."

José Luís PeixotoO vagabundo regressa a casa*


Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

09.09.2012
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* Textos de José Luís Peixoto: blogue do autor

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