Sunday, January 29, 2006

Lótus




Imagem:  Lotus

http://uniaobudistaporto.nosapo.pt




(...)
Procura o que tens em ti mesmo sabendo que nunca vais chegar a saber tudo. É um pecado grande não aproveitar o dom ou o talento, por mais ténues, que nos foram concedidos. Sê quem és.(...)

Pedro Paixão
, Os corações também se gastam, 2005


Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores
28.01.2006


Monday, January 23, 2006

Paisagens intemporais





Petra
Fotografia: Vivian Ronay

http://www.petraphotos.com



«Bible stories, lost cities - Lawrence of Arabia, Jordan...»





Buscava esta tarde, eventos ligados aos meus humildes prazeres de constante aperfeiçoamento cultural e humanístico, quando embati nesta paisagem que me sufocou pela imponência singular! Uma das maravilhas desconhecidas do Mundo!

Gosto de civilizações longínquas! Percorro frequentemente esses espaços distantes, exóticos, coloridamente humanos, impregnados de fragrâncias de povos e costumes.

Entrei na Jordânia através desta espantosa imagem!! Petra! Um desfiladeiro atravessado diariamente por populações distantes. Os Beduínos! 

Retive a respiração por espantamento! Maravilhada perante tão intensa beleza transcorrida da erosão dos ventos e das areias, sustive em cadência a contratempo, o leve sopro que me dá a vida. 

Beleza natural, divina! Inalcansável à mão burilada do Homem! Nenhum artesão por maior que se apresente, poderá delinear tão intensa e eterna obra de arte! 

Prisioneira na paisagem transcendental, impelida pelo filamento de luz, ergui o olhar no firmamento fragmentado. 

A mais balsâmica sensação de liberdade! E o grito estancou-se em mim!

Miosótis (pseudónimo)

texto original)

fragmentos da noite com flores

23.01.2006

Licença Creative Commons



Thursday, January 19, 2006

Dos sons




Imagem (sem autor registado) *

http://news.yahoo.com



Há meses que não parto para um concerto de jazz! Sinto-me solitária de mais! Só a musica de jazz me traz o eco de meu sopro!

Claro que posso ouvir no meu canto, durante os trajectos diários, citadinos... mas um concerto ao vivo é mesmo uma sensação única, forte, intimista!

É um olhar que se prende num palco meio obscurecido, onde os spots batem em jogos monocromáticos, incisivos, sobre seres tão solitários quanto eu! Os músicos, poisados num espaço de onde espalham seus próprios sentires através dos instrumentos a solo com que se identificam.

A palavra solista transporta uma carga profunda, forte, grandiosa! Do italiano solo ou talvez do castelhano solo (os linguistas dividem-se...) palavra que significa trecho musical para ser tocado a solo.

Como é fácil transportar conceitos musicais para muitos de nós, seres a solo em plena travessia universal, tempos de solidão que vão escorrendo pelos muros das sociedades actuais! Descompassos de um trecho não musicado!

A alma é isso! Liberdade de sonoridades, soltas das grilhetas sociais, correr correr veloz, alto bem alto, e poisar algures em paisagens incertas, mas tão intensas e familiares que um doce bem estar se expande em cadências rendidas de emoções!

Ouvir Marsalis! Grito que não se sufoca, nem se abafa, solta-se agudo, largho! Em fusão com outros sons, suaves, dóceis, lânguidos, deambulações sonhadoras em bosques silenciados da memória.


"The most important thing about Marsalis is that he truly loves communicate the essences of music to his fellow musicians and to his audiences."

Stanley Crouch

Miosótis (pseudónimo)

(texto original)


fragmentos da noite, ao som de As time goes by - Rod Stewart & Queen Latifah
19.01.2006

Licença Creative Commons

Friday, January 13, 2006

Destino









Foto: Alessandro Della Bella/AP
http://news.yahoo.com/photos



(...)
- A vida é eterna e a separação efémera. O destino é um rio poderoso, deixa-te levar e encontrarás o oceano.


Shan Sa,
As quatro vidas do Salgueiro


Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores
13.01.2006



Sunday, January 08, 2006

Solitude et poésie




Foto: Theo Heimann/ AFP
http://news.yahoo.com



Le poème est le regret

d'une chose qu'on n'a pas touchée.

Un regard secret de l'âme emprisonnée.

Des nuages qu'un dieu a mis au ciel

rien que pour être regardés.


Natállia Correia, Inéditos XVII, 1955/57


Há momentos assim, de completa interioridade.




Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores

08.01.2006
Copyright ©2006-fragmentosdanoitecomflores Blog, fragmentosdanoitecomflores.blogspot.com® 


Thursday, January 05, 2006

Afectos silenciosos






Foto: Fabrizio Bensch/ Reuters

http://news.yahoo.com




Já escrevi sobre a força da imagética no meu universo visual. Como sou um ser muito introvertido, vivo muito virada para meus próprios pensamentos, aventurando-me em mil cenários, onde as imagens entram em profusão, servindo de fundo, muitas vezes, a pequenos textos que me atrevo a escrever.

São ideias simples, brotadas de sentimentos profundos que constante e incondicionalmente não me cabem no peito.

E fogem, fogem, quase explodindo de encontro ao universo que me sustenta e mas reenvia. É como um grito mudo que sai e volta!

Esta imagem foi um deslumbramento! Que me atraiu? Não sei descrever! Só sei sentir!

As palavras são tão limitadas! São sim margens para outros espaços, outras vibrações, mas não conseguem nunca exprimir sentimentos quando muito intensos, mesmo os estéticos!

E esta imagem é intensa, forte, suave ao mesmo tempo, de uma beleza serena, emotiva.

A brancura anilada da neve torna-se quente neste tom rosado matizado de dois flamingos que se passeiam com tanta tranquilidade.

Não sei se buscam alimento! Podem fazê-lo pelo prazer de sentir os raios solares reflectidos da paisagem gelada na sua plumagem macia!

Como é misterioso o passeio de dois seres, desprovidos de alma, reagindo apenas aos instintos da natureza que os envolve! 
E se entregam, nesse deambular, sem o temor de estar a dois, fruindo do bem estar do Universo.


"No silêncio da terra. Onde ser é estar."

António Ramos Rosa, No silêncio da terra


Miosótis (pseudónimo)

texto original, 05.01.2006


(noite fria, silenciosa em fragmentos de flores)

Licença Creative Commons

Monday, January 02, 2006

Sinos ancestrais para o Novo Ano !






credits: AP/ China
https://news.yahoo.com/


"Os homens volteiam no ar, tocam música no vento," [...]

Wang Wei, Visita ao templo do monge Fu, Poemas
701-761


Ano do Cão - Luz do Sol!

Bom Ano 2006! 



Miosótis (pseudónimo)

02.01.2006
Copyright ©2006-fragmentosdanoitecomflores Blog, fragmentosdanoitecomflores.blogspot.com® 



Sunday, January 01, 2006

Silêncios em blue





Imagem* Autor não identificado

www.sapo.pt



[...] ele escrevia o meu nome num papel ele sentava-se
numa cadeira e o luar era a luz de um candeeiro
sobre as palavras escritas.

ele disse amo-te.

[...] ele escreveu o meu nome durante muitos anos.
eu perguntei porque continuas a escrever
o meu nome? ele olhou para mim, e perguntou
quem és tu?

José Luìs Peixoto, O Escritor, 2002



Aqui não há vozes, só a tua ausência


Eu segurava com todo o amor de lua a tua doce cabeça que poisava em mim, seda pura. E de olhos semicerrados, com mil afagos ternos, eu te beijava serenamente, em silêncio, receosa de te perder, de te sobressaltar.


Exausta da brutalidade dos espaços, dos prantos e da vida, (re)encontrava em ti, meu profundo amigo, aquele afecto eterno, inexperienciado em outros templos.

A lua elevava-se no universo, iluminando com sua luz azul anil, da cor deste sonho, que eu teimava em pintar. Entrelaçávamos nossos corpos, bebendo gotas de orvalho, e assim permanecíamos sedentos de afecto e mil carícias. Só nós as sabíamos sentir no toque virginal que nos habitava.

Cortinas de pirilampos filtravam os olhares indiscretos, mundanos, duros, daqueles que não reconhecem o amor intemporal. Tu eras sol, eu era lua. Jardins e aromas raros desabrochavam, impregnando suavemente este doce cântico de sons distantes, trazidos para além dos tempos.

Um retrato sagrado, do imenso carinho que nos unia. Regressavas esmorecido, as tuas asas encharcadas, semi-partidas, de voos agrestes e intempestivos.

E um dia partiste, sem voltar. Partiste, e não disseste a verdade. Prometeste escrever, regressar com os gansos selvagens. E não voltaste! A tua voz extinguiu-se, e o meu pranto brotou.

Hoje entendo que outras paixões te povoam, encantam sofregamente. Seduzido pela beleza exterior do efémero corpo de mulheres, tu buscas outras mãos mais prementes de sensações fortes, carnais, momentâneas, mesmo tendo como fingimento a não alma, e se desnudam, para atrair tuas asas de eterno Ícaro.

Tudo neste mundo é sonho e ilusão. Alguns enlouquecem de tanto cantar o amor. A minha idade um bosque de bambus. Ao entardecer, as aves regressam aos pares. E eu emudecida, observo.

Pedaços de brisa, o luar, a solidão. As pétalas de lótus deixo cair de minhas mãos. Apenas nuvens brancas. Volto a casa derrotada, fecho a grade do jardim do tempo.


(...) há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim. (...)

José Luís Peixoto, A mulher mais bonita do mundo, 2002


Miosótis (pseudónimo)
 ©texto original, 01.01.2006
Copyright ©2006-fragmentosdanoitecomflores Blog, fragmentosdanoitecomflores.blogspot.com®


(de encontro ao silêncio, dentro do mundo, em noite do amanhecer de um novo ano)


Licença Creative Commons

* A imagem belíssima, publicada em tons de cobre e oiro, encontrei-a há alguns anos, num fórum de discussão. Guardei-a como se me tivesse sido dedicada.


Mais tarde, encontrei-a num motor de busca. Não tinha autor identificada. Hoje publiquei-a na cor que melhor transmite a luz do luar, a minha.

Que me perdoe ao autor! Ou então que se identifique...