Wednesday, January 20, 2016

Não tem sido fácil...





Não tem sido fácil. Não, não tem sido fácil ser mais assídua no meu canto mais intimista. 

Já escrevi várias vezes em diferentes contextos. Não é só falta de tempo, é essencialmente uma definição do querer, não querer. O silêncio é mais presente nas minhas noites de Inverno. Pesado. Ensurdecedor.

Talvez esteja a fugir da causa mais profunda. O desaparecimento de afectos, de pessoas. A fragilidade de vidas por um fio.

Por muito que se queira olhar com um certo distanciamento, não está a ser fácil. A nossa afectividade está lá.

O Natal, essa época de paz, não trouxe mais apaziguamento. Revelou com maior incidência, a ausência das coisas, dos gestos, dos afectos que nos prendem às pessoas. Silêncios.

E trouxe também outos medos. Outras incertezas.

Ainda assim, quero voltar a estar aqui. E quero estar com mais regularidade. Não posso prescindir deste meu refúgio nocturno. Recolhimento.

De qualquer forma, posso sempre começar por dizer algo sobre alguns temas que se identificam com minha sensibilidade. É ir passando por este cais.

(...)

Ah, quem sabe, quem sabe,
Se não parti outrora, antes de mim,
Dum cais; se não deixei, navio ao sol
Oblíquo da madrugada,
Uma outra espécie de porto?
Quem sabe se não deixei, antes de a hora
Do mundo exterior como eu o vejo
Raiar-se para mim, (...)

Álvaro de Campos, Ode Marítima

Miosótis (pseudónimo)

19.01.2016
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6 comments:

Suzete Brainer said...

Querida,
Eu compreendo bem, "A fragilidade de vidas por um fio."
Quero te dizer que gosto de voar aqui no teu espaço
no teu tempo do agora!...
Quero te deixar este presente para interagir com o
poema do Grande Álvaro de Campos (os eus luminosos do Pessoa!),
a luminosa Poeta Cecília Meireles:

"Procurei-me nesta água da minha memória
que povoa todas as distâncias da vida
e onde, como nos campos, se podia semear,
talvez,
tanta imagem capaz de ficar florindo...

Procurei minha forma entre os aspectos das
ondas,
para sentir, na noite, o aroma da minha duração."
(Poema: Medida da significação;um trecho do poema) Livro: Viagem.

Beijos.

Manuel Veiga said...

tão humano teu texto.
tão no rasgar da pele, que dói.

beijo

Mariazita said...

Querida Miosótis
Gostei imenso deste texto, com o qual me identifico perfeitamente.
" O desaparecimento de afectos, de pessoas. A fragilidade de vidas por um fio." - acontece a toda a gente, penso eu, só que a forma como é sentido depende da sensibilidade de cada um...

Te desejo um excelente final de semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

MS said...

Querida Suzete,

Logo Cecília Meireles, uma poetisa que adoro ! O 'presente' é lindo, leio este poema com muita frequência, entre outros.
Sim, interage claramente com Pessoa. Grandes sensibilidades em busca dos seus 'eus'.

Pela poesia que escreves, sei que compreendes bem a fragilidade da vida.

Agradeço o carinho demonstrado por este meu espaço. Nem sempre sou tão assídua. Por vezes afasto-me e fico no silêncio. Espero que me entendas...

Beijos

MS said...

... sempre tão perto, e tão longe, 'Herético'. Sensibilizada pelo carinho.

beijo,

MS said...

Sensibilizada, querida Mariazita. Há dias mais complicados em que a tristeza dos afectos ausentes, bate com maior veemência.

Espero dias de sol...

Para si, uma excelente pausa Carnaval!
Beijinhos