Saturday, May 31, 2014

Rendez-vous aux jardins... com literatura




Le Vallon des Poètes | Parc Floral de la Haute Bretagne

Des milliers et des milliers d'années
Ne sauraient suffire
Pour dire
La petite seconde d'éternité
Où tu m'as embrassé
Où je t'ai embrassée
Un matin dans la lumière de l'hiver
Au parc Montsouris à Paris
à Paris
Sur la terre
La terre qui est un astre.

Jacques Prévert, Le Jardin


Num dia lindo como o de hoje, só poderia escrever sobre jardins, flores e pássaros. Esplendoroso sol, depois de uma manhã semi brumosa, despertou em mim um espaço de 'zenitude' que me levou a escrever. Melhor, partilhar uma ideia que se pratica em França há alguns anos.

Passemos então a admirar jardinsneste sábado luminoso, céu azul tão claro que quase se funde no branco enevoado do horizonte.

Pressente-se a tranquilidade nestes espaços coloridos como telas pinceladas pela natureza, e por mãos que encerram encantamento e amor pela natureza. Espaços onde a serenidade parece estar sempre presente.



foto : Jardin des Paradis
 Association Cordes développement

Há algo de maravilhosa sedução neste apreço pelos jardins. É como que uma natureza acarinhada. Acto e sentimento muito louváveis.

E lembrei quando escrevi Contemos os pássaros do jardim. Tratava-se de Fête de la Nature (2010) que descobrira havia poucos dias. Nesse ano, a actividade mais cativante era Comptons les oiseaux dans les jardins ! Cheguei a propô-la aos amigos deste blogue. E eu própria me dediquei a contar os pássaros que por aqui rondaram. Foi um ano delicioso. Muitos pássaros esvoaçaram por perto.




A Fête de la Nature 2014 já decorreu entre os dias 21 e 25 Maio. Foi criada em 2007 com o objectivo de celebrar a natureza. 

A Fête de la Nature celebra-se desde ai, todos os anos em Maio, numa data próxima do dia 22 Maio. E por que razão este proximidade com o dia 22 ? Por se tratar do Dia Internacional da Biodiversidade.




Fête de la nature 2014 | Mission Coquelicots

A edição deste ano, a 8ª edição, tinha por tema Herbes folles, jeunes pousses et vieilles branches A actividade mais atractiva? Poderia ter sido MissionCoquelicots. Dupla finalidade: assinalar a floração das papoilas para melhor compreender as alterações climáticas !

Não lhe ficaria indiferente, claramente. As papoilas são a minha flor silvestre preferida, as oscilações climáticas preocupam-me.





Jardins de Roquelin | DR
https://fbcdn-sphotos-d-a.akamaihd.net/

Decorre então agora um outro evento tão envolvente quanto o anterior : Rendez-vous aux jardins 2014

Este ano, na sua 12ª edição, Rendez-vous aux jardins começou ontem 30 Maio,  e continua até 1 Junho. O tema L'enfant au jardin, faz todo o sentido. Numa época em que as crianças andam muito pouco ao ar livre, é sempre bem vinda uma iniciativa que as traz de novo para o meio da natureza.


As actividades são muitas, já que se estende por toda a França. E os mais raros espaços verdes abrem-se a todos os visitantes. Alguns só estão acessíveis durante o evento. O programa poderá ser lido aqui.



Le jardin potager | Château de Miromesnil

Um dos jardins que me cativou de imediato, na base da imaginação que a Internet nos permite, já que nos abre as portas a eventos e locais, alguns dos quais não poderemos visitar em espaço real. Mas o espaço virtual, esse passou a fazer parte das nossas viagens.



Château de Miromesnil | Les Amis de Miromesnil

Falo do  Jardin potager du Château de Miromesnil (Haute-Normandie) onde facilmente me perderia na contemplação da beleza.

Qual a razão ? Foi no Château de Miromesnil que nasceu em 1850, o escritor Guy de Maupassant. Considerado um dos criadores do conto moderno. Escreveu mais de 300 contos, seis romances, notícias e outros textos. 

A sua obra mais conhecida, o romance Bel Ami foi publiado folhetim, em 1885. Tantos outros escritores praticaram este tipo de publicação no século XIX. 


"Et, dans la suite des temps, ceux qui ne le connaîtront que par ses œuvres l'aimeront pour l'éternel chant d'amour qu'il a chanté à la vie."

Émile Zola



Bel-Ami conta a história de um ilustre desconhecido que, com muito oportunismo, bem ao estilo arrivista, mesclado de muito descaramento, consegue conquistar Paris e ser aceite pela sociedade da época.


Bel Ami 2012

Um romance que poderia situar-se bem nos dias de hoje. Talvez por isso, tenha sido adaptado ao cinema por Declan Donnellan, Nick Ormerod. Foi exibido na 62ª edição do International Berlin Film Festival 2012, fora de competição. Trailer a ver aqui

Bom, mas entre soljardins e literatura fui divagando. Saborosa esta divagação tão cheia da exuberância dos jardins. Foi uma viagem encantadora entre jardins e literatura.



Rendez-vous aux Jardins 2014 por culture-gouv

Nada melhor do que um dia de sol para nos fazer planar para além do usual estado d'alma. Acho que todos nós sentimos isso.

Fica então o convite virtual para Rendez-vous aux jardins !

"Lorsque les premiers beaux jours arrivent, que la terre s'éveille et reverdit, que la tiédeur parfumée de l'air nous caresse la peau, entre dans la poitrine, semble pénétrer au coeur lui-même, il nous vient des désirs vagues de bonheurs indéfinis, des envies de courir, d'aller au hasard, de chercher aventure, de boire du printemps."

Guy de Maupassant, Au Printemps, extrait conte
mai 1881, éditions Havard

Miosótis ( pseudónimo)

31.05.2014
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Saturday, May 10, 2014

Sem rumo, com sonhos




Meditation

Tenho andado desgarrada, arredia. Dias que nos deixam assim. Sem rumo. Sem querer de coisa alguma. Como quem fala só para si. Ou nem isso.

Sei sempre, mas muitas vezes esqueço. Esqueço vezes demais. 

De quando em quando, a melhor a mais pequena aventura, a maior felicidade do dia é não dizer nada. Apenas estender o olhar. E aquietar, sem medos.

Como quem está a olhar para as flores que se espalham nos jardins. Não longe do rio. Ou do mar.

Hoje vim aqui meditar sobre o que tenho, e gosto. Os dias grandes, meu tempo, o horizonte imenso, desanuviado, profundo no azul. 

Sonho, sim, absorvo o que me rodeia. Ou mais ainda. Mudei, sim. Não podemos permancer os mesmos. Mas não me preocupo em descodificar o significado do que sonho. Ou da mudança. Aparente paradoxo ? Talvez. 

O que sonho não me impede de andar para a frente. Alimento o meu sonho e tento deixar que ele se transforme à medida das mãos com que lhe toco e das com que me tocam. É a mudança. Transformação lenta, pausada, sem sobressaltos.

Continuo sentada, poisada na paisagem, mas apenas a posição é estática, pensamento, esse anda por aí vagueando, sereno, pela vida. 

Amo a vida. Não tenho muitas ilusões. Mas guardo sigilo sobre algumas que não largo. São minhas. Pertencem-me. Com elas cresci, me tornei mulher. E fui caminhando.

E todos os dias olho o que amo incondicionalmente - mesmo quando não tenho ânimo de continuar.

E respiro tudo isto, e o sonho navega em mim, em todo o meu ser, pela pele e pelos cabelos, alma e coração, e à medida que avanço mais, experimento melhor, o sonho altera-se comigo. 

Acarinho a vida, mesmo sendo contra a maré. Só porque sim. 

"Il faut savoir se prêter au rêve lorsque le rêve se prête à nous."

Albert Camus

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

10.05.2014
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