Tuesday, December 31, 2013

Seguir adiante




foto: autor não identificado

Que amanhã, e todos os dias que se seguirem, o nosso ano se apresente de uma maneira aprazível, fruindo dos aromas que possam enfeitar nossa mesa, paisagem perfeita.

Serenidade, cor, alegria, na suavidade dos gestos.

"Com as coisas que vão acontecendo vamos aprendendo que nada é impossível de solucionar, apenas siga adiante."

Papa Francisco

Com o desejo de que 2014 nos dê a oportunidade de sermos o melhor que formos capazes. E seguir adiante.

Bom Ano!

Miosótis (pseudónimo)

31.12.2013
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Monday, December 23, 2013

E Natal é





Tempo com odores de doçaria, e de memória(s). Afectos com cores. Natal.

Tempo de luzes e velas, dos linhos, dos madeiros e de romãs. Encarnado, castanho-dourado, verde-musgo. Cores de ternura.

Là fora, o vento solta-se e bate com força, em sons de desalinho, entre o tempo coado de azevinho, mel e erva doce.

Um a  um, aromas e afectos colho-os, como se fosse o tempo dos frutos. Limito-me a saborear o momento. E deixo partir o ano lentamente.


Numa cidade de portas fechadas, abro então esta pequena janela para os amigos. Porque é tempo de deixar uma mensagem. Com carinho.


Natal de Paz. 


Miosótis (pseudónimo)

23.12.2013
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Sunday, December 15, 2013

Aromas do Inverno




foto:  

Não, não quero continuar a falar das perdas que nos têm desassossegado, nesta última semana e meia. 

Mandela, Nadir Afonso, hoje Peter 0'Toole. E seis jovens que incautamente se aproximaram do mar que tanto amo, mas que não perdoa a quem não o teme. Quanta desolação!


Prefiro falar dos aromas do Inverno. Romãs, frutos secos, terra fria, folhas soltas, tisanas quentes, maçãs assadas, canela.


"L'été qui s'enfuit est un ami qui part ."

Victor Hugo

Eu gosto dos aromas do Inverno. Mas não gosto do inverno, como estação. 

E tal como o escritor, sinto que quando o verão parte, a solidão se instala. Como se não houvesse amigos, família por perto. Mas há. Eles estão cá. Alguns.

É nosso eu mais intimista que se sente mais só, mais quieto.

Então, gosto de escrever, à noite, junto a uma tisana quente, ou então, uma maçã assada, caramelizada com canela e açucar moreno.

meu reino é o da escrita. Não, não nasci escritora. Não sou escritora. Mas tenho o gosto da escrita. Veio talvez do gosto da leitura. Simplesmente, como quem pensa. Ou fala em voz baixa.

O meu gosto vem-me da infância. O de ler. O de escrever. 

A família lia muito.

"E há um grande peso e ensinamento que se recebe, desde que se nasce."

Agustina Bessa-Luís

Tranquilizem-se. Não, o meu reino não é o da fantasia. Se não, eu não sentiria tanto o inverno. Apenas os seus aromas quentes me acariciam a memória dos tempos da infância.

Dessa infância de onde me veio, tal como Agustina, o gosto da leitura. E mais tarde transmitiu-se à escrita.

Algum episódio da minha infância sobre a leitura? Não. Apenas a imagem de uma leitura sempre feita no singular. Nada de serões de leitura em comum. Apenas conversas sobre temas lidos, como pelo gosto de conversar em família.

Lembro que assaltava as estantes dos meus pais, dos irmãos mais velhos. E adorava comprar livros. Hoje continuo a gostar muito de comprar livros.

E ia completando as prateleiras da minha biblioteca, não esquecendo nunca de devolver os livros às estantes pessoais da família. Com afecto.

Os aromas também me vêm da infância. Nas noites de inverno, soltavam-se pela casa enorme, enrolavam-se pelas escadas e subiam até ao último piso, onde ficava meu quarto, assotado.

Falar de coisas belas que resultam do nosso dom de sentir os aromas do inverno. É um gosto escrever, este que conservo. Ainda.



Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

15.12.2013
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Saturday, December 07, 2013

Nelson Mandela: tributo possível




Nelson Mandela 
foto: Mike Hutchings | Reuters

“Social equality is the only basis of human happiness.”  
(Mandela, a letter written on August 1, 1970)

É um luto silencioso o que se sente em Qunu, a aldeia rural onde Mandela viveu parte da infância e para onde deseja voltar.

Ao contrário da forma efusiva, quase celebratória, que se faz sentir nas homenagens em outros locais do país, como Joanesburgo, Houghton e sobretudo no Soweto. Em Qunu reina a serenidade. Por agora.




foto: Euronews

"A good head and good heart are always a formidable combination..."
Nelson Mandela

Um ancião de Qunu defende que Mandela “tem de fazer esta (ultima) travessia da melhor forma possível”. “Vamos deixa-lo partir. Ele já trabalhou para nós”.

Gosto muito da sábia mensagem deste ancião, um dos poucos mais de 200 habitantes de Qunu.





E foi no momento em que decorria em Londres a anteestreia do filme Mandela: Long Walk To Freedom,  que a notícia chegou.

Duas das filhas de Mandela estavam na sala. Enquanto decorria a sessão, foram informadas da morte do pai, mas solicitaram que nada interrompesse a exibição.

Só no final, audiência foi informada, quando o produtor Anant Singh subiu ao palco para dar a triste notícia.

"Man’s goodness is a flame that can be hidden but never extinguished"

Mandela

RIP Mandela

Miosótis
fragmentos com flores
7.12.2013
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Sunday, November 24, 2013

Tributo: John Kennedy e Caroline : a saudade !





Caroline Kennedy e seu pai John Kennedy
25 Agosto 1963 
Credits: JFK Library

Noite fria, silenciosa. Quase lastimosa. A dor de Carolinemenina, na sua alma de criança. Seu pai não voltará a abraçá-la.

Percorro os espaços que os media partilharam ao longo de todo o dia de ontem. Fotografias inéditas, pessoai. Família Kennedy.

Jardins de alegria, ternos aconchegos. Comoção profunda, embora, digam que 50 anos se passaram. Afectos estilhaçados.

Uma família dotada, defeitos, virtudes, como cada uma das nossas famílias. Valores, defesa causas humanitárias. União. Partilha. Felicidade. Crianças. 

Maldição? Desígnios que entristecem.

“What was killed in Dallas was not only the president but the promise. The death of youth and the hope of youth, of the beauty and grace and the touch of magic.”

James Reston, New York Times

Olhando as luzes lá fora, parecem-me melancólicas. Tristeza foi o sentimento maior que se abateu sobre o mundo. Naquele dia, John Kennedy foi assassinado brutalmente, em 22 de Novembro 1962.

Caroline. O abraço aconchegante, ternura partilhada. Nada voltou a repetir-se.

" I don't remember my father reading to me, but I remember him telling me bedtime stories."

Caroline Kennedy

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

24.11.2013

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Saturday, November 16, 2013

Sampaguitas para Filipinas




Espiritualidade

Todo um mundo 
   que sofre
sobe um manto de flores.


Kobayashi Issa

Escrever o quê perante tanta tragédia? O mesmo bloqueio quando me emocionei pelo Japão.


Espiritualidade! A primeira palavra que veio ao pensamento. Associo espiritualidade ao ritual das flores.


Fui então ao encontro da flor nacional filipina.  A flor de sampaguita.

Sua fragância suave assemelha-se à flor de jasmim. É oferecida aos santos de devoção.

A sampaguita, símbolo de pureza e devoção, cresce na zona montanhosa de Pampana. 


Depois veio a poesia. Haiku ou Haikai. Poema curto que usa uma linguagem imagética para transmitir a essência de uma experiência da natureza ou de um momento ligado à condição humana.


Já que é necessário
entremos na morte 
à sombra das flores.


Kobayashi Issa


Flor de sampaguita


Brevidade ! A flor de sampaguita é colhida de manhã bem cedo, regra geral por crianças, que se apressam a vendê-las nos mercados locais.

A flor de sampaguita dura apenas um dia. Simbólica da brevidade de todos os seres, flores, Humanidade.


Preces. Palavras que nos voam na mente.

O sino cala-se -
    em eco
as flores perfumam a noite!


Matsuo Bachô

Presenças espirituais. Almas que se afastam.

Seres que vivem escondidos no coração dos que amam, mesmo partindo. Pressentem suas preces. Expressam-se por aromas de sampaguita. 

Para sempre.

Afundam no céu. Paz? Deixaram os seus tão abruptamente.


Eternidade.

     Profundo
mais profundo ainda
nas montanhas azuis


Taneda Santôka


Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores, em espritual prece pelas Filipinas.


16.11.2013
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Poemas in As Cigarras vão morrer, Kaiku, Uma antologia
Editora Casa do Sul, 2008

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Saturday, November 02, 2013

Pássaro sem primavera




Tate Tatew

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio

(...)

Mia Couto, Solidão (excerto)

E foi na hora em que me recolhia que ouvi um pássaro bem perto chilreando, alegre, quase pueril.

Mas, não é Primavera! Que fará um pássaro sem primavera cantando na noite fria? O Outono leva os pássaros, e só o calor os volta a trazer. 

Perdido? Não. Cantava com alegria. Como se tivesse todo o tempo do mundo para atravessar as estações.

Não pode ser! E fui até à janela de onde chegou seu canto. Lá estava ele, chilreando, por entre pedaços de chuva como frutos abundantes que o pássaro debicava entre o verde dos ramos das árvores, na obscuridade.

Um dia cinzento-pardo, plantado de tristeza na noite escura. E entrou ele, assim, com seu trinado despreocupado, pelos meus vidros, por trás dos quais a noite se fechava na bruma fria, o céu sem lua.

Solto, leve, esse pássaro encantador continuava, arrancando-me à solidão que me tocava nos dedos. 

Sempre me surpreendem, me fascinam estes seres delicados, frágeis, livres, independentemente do(s) tempo(s) das estações.

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra (...)


Mia Couto, Para ti (excerto)


Obrigada meu pássaro-cantador! Puseste um sorriso neste rosto que todo o dia permanecera tão ensombrado quanto o tempo. E me empurraste os olhos para outros limites.

Miosótis (pseudónimo)

02.11.2013
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Monday, October 21, 2013

Outubro Rosa 2013





"E ela não passava de uma mulher... inconstante e borboleta."

Clarice Lispector

Todos os anos, desde 2008 que me junto à campanha Outubro Rosa. Momentos importantes para todas as mulheres.

Relembro a coragem da realizadora Marie Mandy que filmou a história da sua recuperação, transmitida em 2010, no canal France 2. 

Um documentário que foi um grito feito de imagens pungentes de uma mulher que não cruzou os braços no meio do desespero.

E em 2012, me juntei de novo  ao mês da luta contra o cancro da mama.

Uma campanha mundial que anualmente, em Outubro, alerta as mulheres, e  os homens (embora em menor número) para a consciêncialização sobre a doença.




As mulheres continuam a ser as grandes vítimas mortais do cancro em Portugal.

A conclusão faz parte de um relatório da Direcção-Geral da Saúde (DGS) sobre as doenças oncológicas em 2013, que foi apresentado recentemente,
No documento é ainda afirmado que "a exposição a factores de risco determinarão um aumento da incidência de doenças oncológicas nos próximos anos", à semelhança do que se prevê nos demais países europeus. 

No âmbito das terapêuticas, o documento da DGS refere que "a oferta de radioterapia registou progressos notórios, sendo a situação de Portugal comparável à dos parceiros europeus". 

Os tratamentos de quimioterapia também têm vindo a aumentar, inclusive em ambulatório - sem que seja necessário internar o doente. 






Para melhorar, os autores apontam o investimento na promoção de estilos de vida saudável e na prevenção primária, bem como na realização, prioritária, de rastreios

O documento não esquece a prometida rede de referenciação oncológica. Nesse sentido, "terá de se reforçar a partilha de cuidados e modelos de colaboração entre instituições, promovendo afiliações onde se afigurar necessário". 

E os grandes hospitais, "que demonstrem maior capacidade, tanto em qualidade com em quantidade, devem ser apoiados na perspetiva do seu desenvolvimento e rentabilidade dos meios que dispõem".        

(excertos do documento da DGS)
in Expresso, 17.10.2013


Na tua pele toda a terra treme
alguém fala com Deus alguém flutua
há um corpo a navegar e um anjo ao leme. (...)

Manuel Alegre




Miosótis (pseudónimo)


fragmentos de esperança

28.10.2013
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Referências:

Expresso

Saturday, October 12, 2013

Perfume de Outono




Women Portraits
Henri de Toulouse-Lautrec

De volta ao meu sítio das palavras! É sempre bom voltar! Tranquilamente, sem pressas. Apenas porque preciso escrever.

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.(...)


Fernando Pessoa

Outono voltou! E durante uma semana aspirou-se  o tempo com aroma de um verão fora da época. Mas bom! Doce.

Um Outono que deixou as folhas tranquilamente poisadas nas ruas, soltas, folhas apenas levadas pelas brisas quase acariciadoras.

Sim, muitos domingos se sucederam àquela tarde de domingo de finais de Julho. Passeios em final de tarde, leituras leves, tempo de mar.

Em Setembro, o quotidiano. Os dias desdobraram-se em movimento constante. Nada de atropelar a vida. Apenas viver.

Mas hoje foi diferente! Outono que caia sobre as árvores, percorrendo a distância de uma primavera já longínqua. 

Sentiu-se o Outono. Senti-o logo, apenas olhando-o pela janela. Estremeci. Um arrepio mais frio percorreu-me. Sol pálido na paisagem.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo. (...)


Fernando Pessoa

Lembranças sucedem-se assim. Múltiplas imagens. Desordenadas, como o pensamento. 

Então, o tempo de escrever. Fragmentos de coisas minhas que transparecem de anseios, alguns sentires, rumo ao Inverno. 

Motivo para escrever? Não sei! Sinto que tenho dificuldade, não nego de expressar em palavras soltas aquelas pequenas coisas. Mas, mesmo assim, escrevo.
 
Precisava olhar lá longe na noite o rumo desfeito em litanias, sentir o espelhamento de meu ser. Vago. Difuso.






Sei que é uma noite de decisões. Não, não quero cair na melancolia dos pensamentos que os ventos de Inverno sempre me empurram para dentro. 

Continuo a escrever, A ouvir música. A ouvir o silêncio. Não tenho interrogações.

Deixo hoje, neste sítio um intimismo que me é peculiar. Como quem diz de si para si. Deixa. Amanhã, quem sabe se o firmamento se volta a mostrar azul! 

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta (...)


Fernando Pessoa, Uma névoa de Outono, o ar raro vela,
05.11.1932

Miosótis (pseudónimo) 

12.10.2013 
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Nota: Para os que não leram a justificação do meu pseudónimo, no início deste blogue, este apenas se deve a tributo de ternura a minha mãe que adorava flores de miosótis)