Aguarela
credits: Julio Resende
Do amor
Um outro toca em partículas da alma e nos percorre, divinamente, em espaços e afectos indecifráveis, fazendo-nos sobreviver aos momentos mais tenazes de sofrimentos e devastação.
Íntimos anseios,
dádiva de sentires,
carícias de espuma,
búzios de ternura
nos fazem partilhar uma vida
que sonhámos, mesmo antes
do início do Universo.
Miosótis (pseudónimo)
texto original, 11.08.2005
Presídio
Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?
E o ventre, inconsciente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!
David Mourão-Ferreira, Variações sobre um Corpo,
Colecção duas de leitura, Editorial Inova, Porto, 1ª edição
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite com flores
08.11.2005
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