Saturday, March 08, 2025

No Dia Internacional da Mulher : " Teus sentimentos são poesia "

 







Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca! 

Oh! Como és linda, mulher que passas
que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias! 

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania. 

Meu Deus, eu quero a mulher que passa! 

Como te adoro, mulher que passas

Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias! 

Porque me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias? 

Por que não voltas, mulher que passa?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça? 

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa! 


No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa! 

Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.


Vinicius de Moraes, A Mulher que Passa



No Dia Internacional da Mulher, preferi, desta vez, celebrar a sensibilidade.


Miosótis (pseudónimo)

08.03.2025
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Sunday, February 23, 2025

Voltei ao cinema ! Bridget Jones: Mad About the Boy ! Um fim de tarde bem divertido !


 



Bridget Jones: Bad About the Boy
Michael Morris, 2025


Quem não viu a trilogia baseada nos livros de Helen Fielding, Bridget Jones, quer no cinema, quer mais tarde, na televião ou plataformas streaming ?!


Talvez que muitas de vós tenham lido. O livro de Helen Fielding Bridget Jones's Diary (1996) tornou-se surpreendemente um bestseller global, publicado em mais de 40 países. Depois vieram mais três livros, sendo que  o último Bridget Jones: Bad About the Boy, escrito em 2013, foi adaptado ao cinema. E está agora nas salas de cinema nacionais.
 

Fielding escreve sobre a sua carreira, imagem pessoal, hábitos, família, amigos e relações amorosas. Eu fiquei-me pelos filmes. Não li nenhum dos livros.






Bridget Jones : Mad About The Boy
Helen Fielding, 2013


Bridget Jones : Mad About The boy, uma comédia divertida com três excelentes actores ! A incrível Renée Zellweger, acompanhada de Hugh Grant e Colin Firth (num papel mais saudosista). 


E desta vez, temos também a fantástica e galardoada com 2 Oscars, Emma Thompson no papel de Dr. Rawlings, ginecologista.  Soberba e divertida.






Alguns dos personagens prinicipais... 
embora Mr Darcy devesse estar presente
via Google Images Archive


Duas novas personagens! O jovem bombeiro (entendi como guarda florestal) Roxster e o professor Mr Wallaker... sem esquecer os amigos de velha data. E os novos amigos.


Não vou contar tudo. De outro modo, tiraria a surpresa a quem ainda não viu o filme. Temos, no entanto, uma Bridget mais amadurecida, sem esquecer a sua espontanaeidade, atravessando uma difícil fase da vida que repentinamente se transforma.


Uma boa banda sonora, com temas bem conhecidos e muito bem introduzidos. Alegre, ritmada, para dispor bem. Saí bem disposta e divertida. Finalmente um filme positivo!


Pois com toda a sinceridade, estava mesmo a precisar de uma divertida comédia!





Bridget & Roxster
Bridget Jones: Bad About the Boy
Michael Morris, 2025


O filme no seu todo é incrível. Passei o tempo a rir, alguns minutos depois do início da sessão. E, só quase no final, me comovi um pouco com Billy Darcy no palco da festa da escola, cantando uma homenagem ao pai, Mark Darcy.


Este relacionamento saudável que sempre se obtém da personagem de Bridget foi realmente transferido para esta parte final. E adoro que a tenham mantido fiel a si mesma, apesar de quão diferente a sua vida possa parecer agora...

Ela está de volta, uma das personagens mais queridas do público!




Bridget & Mr. Wallaker
Bridget Jones: Bad About the Boy
Michael Morris, 2025


Renée Zellweger, a actriz que, desde a primeira aparição em Diário de Bridget Jones em 2001, se tornou-a personagem com imensas trapalhadas, mas identificada com as peripécias quotidianas de muitas de nós, desta vez em relacionamentos ainda mais desafiantes e complexos.








Após uma enrome perda, e com novas responsabilidades familiares, eis Bridget, entre a escrita do seu diário, os encontros, e conselhos dos velhos e novos amigos é constantemente pressionada a seguir a sua vida e encontrar um novo amor. 


Juntando a tudo isto, a banda sonora encanta, e faz-nos vibrar, tanto nas composições de Dustin O’Halloran, como nos temas contemporâneos dos nossos gostos musicais.


Solto e encantador, este novo, suponho último da sequela Bridget Jones, um filme a ver ! Simples, despretensioso, em ritmo ameno e divertido, com mensagens encantadoras.


Miosótis (pseudónimo)

23.02.2025
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Saturday, February 01, 2025

E foi assim Janeiro !

 

 



Last day of January

https://hu.pinterest.com/


E hoje termina Janeiro. Aquele mês que sempre achamos interminável, o mais longo. Sentimos mais o frio, a tristeza da natureza despida. O gelo que trespassa. A falta do sol. O excedente das nuvens plúmbeas. E tanta chuva caíndo de um firmamento que parece choroso do mundo que nos envolve.


Inexplicavelmente, este ano, Janeiro passou mais lesto. Como fugindo do mundo. Ou fugindo de nós.


Será que fomos nós que deixámos fugir Janeiro? Ficou tanta coisa por fazer, por dizer... 


Janeiro foi, para além da natureza sem graça, das noites frias, dos dias fugidios que anoitecem tão cedo, um mês ainda mais triste.





David Lynch 
credits. Janus film

Ficámos sem David Lynch, o grande cineasta, inventor do cinema surrealista que encheu nossos ollhos e sentimentos de coisas belas, inesperadas e jamais vistas. Não pela idade. Mas sim pelo tabaco que lhe causou um efisema pulmonar mortal.


"What bouillabaisse of ingredients combines to make something not just creepy, not just Surrealist, not just thrillingly unnerving, but uniquely “Lynchian,” that amorphous shorthand that we’ve thrown around ever since the director’s 1977 debut feature Eraserhead became a near-instant cult classic."


David Foster Wallace,

in Vogue, March 2017


Esta a autêntica definição académica de 'Lynchian'. Mas Lynch tornou-se imortal deixando para a história do cinema algumas das obras mais marcantes. Filmes enigmáticos, originais.






David Lynch
credits: Camara Press/ Sébastien Soriano/ Figarophoto


Quantos de nós ficámos presos ao pequeno ecrã, nos anos 90, desde a primeira imagem de Twin Peaks e da banda sonora de Angelo Badalamenti, compositor e autor de várias bandas sonoras de filmes de David Lynch


 



Twin Peaks/ television series
via CBC

Filmes inesquecíveis como Mulholland Drive (2001), and Lost Highway (1997). E claro, Twin Peaks.





Marianne Faithfully
credits: Broken English (album, 1979) / Dennis Morris
 

E quase a terminar Janeiro 30, veio outro triste desaparecimento. Marianne Faithfully, a cantautora, actriz e poeta britânica. Começou a sua carreira com uma balada de Mick Jagger e e Keith Richards, As Tears Goes Bye (1964). Mas Marianne foi muito mais além.



 



It is the evening of the day I sit and watch the children play Smiling faces I can see, but not for me I sit and watch as tears go by

(...)

It is the evening of the day I sit and watch the children play Doing things I used to do, they think are new I sit and watch as tears go by.


Marianne Faithfully, As Teas Goes Bye 


Dexemos Janeiro, este primeiro mês de 2025! E esperemos um Fevereiro com saúde, paz, sol, amor... o resto? É só o resto! 


Miosótis (pseudónimo)


31.01.2025

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Monday, December 30, 2024

Pensando o Novo Ano !








E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

(...)

David Mourão Ferreira, E por Vezes


Que trará o Novo Ano ?


É necessário desafiar o dia-a-dia, a forma como o abordamos e a vontade de criar diferentes maneiras de enfrentar novas vivências.

Quando ficamos quietos, o que recebemos? A luz do sol, o frio de neve, os pensamentos soltos sem qualquer definição. Apenas olhando...

O que é que queremos? E o que é que estamos a pensar?

Onde é que podemos arranjar as forças íntimas que precisamos para alterar posturas perante a vida?

Uma verdade! Perdi um pouco daquela alegria que me era peculiar. Que saía através do sorriso. Era alegre. Gostava da vida airosamente.

Obstáculos ? Dificuldades ? Solidão ! 

Nostalgia dos Natais cheios de azáfama com amor. Melancolia dos Novos Anos de doces e sentidas esperanças. 

Esta janela será a 'porta' entreaberta para o início de um Novo Ano? Será que a abro? Não o tenho feito.

O que me impede? Nada! Ou falta da gente que me amava e me enchia de carinho?!

Não basta sonhar. É preciso estar disposta, estar atenta, avançar. As oportunidades estão lá, - será? - é preciso saber onde e, sobretudo, saber como ir ao encontro.

 
Palavras de um ano, que se vê mesmo, estar a acabar. Ou sentimentos de um ano difícil?


Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro,—
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro

(...)


Machado Assis, Dois Horizontes


Bom Ano 2025 para os que passem por aqui.


Miosótis 

fragmentos da noite com flores


30.12.2024
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Wednesday, December 11, 2024

Maria Teresa Horta entre as 100 Mulheres 2024 na BBC ! No momento certo !

 





Maria Teresa Horta [1937-2025]
créditos: Autor não identificado
via Google Images Archive


Maria Teresa Horta, jornalista, escritora, e poeta faz parte da BBC 100 Women 2024

"Writer and journalist Maria Teresa Horta is one of Portugal’s most prominent feminists and author of many award-winning books, but she is perhaps best known as co-author of the internationally acclaimed Novas Cartas Portuguesas (New Portuguese Letters), written with Maria Isabel Barreno and Maria Velho da Costa."

BBC 100 Women 2024





Women 100 2024
créditos: BBC

"The BBC has revealed its list of 100 inspiring and influential women from around the world for 2024."

Entre elas estão estão a astronauta Sunita Williams, a sobrevivente de violaçóes Gisèle Pelicot, a actriz Sharon Stone, as atletas olímpicas Rebeca Andrade e Allyson Felix, a cantora Raye, a vencedora do Prémio Nobel da Paz Nadia Murad, a artista visual Tracey Emin, a activista climática Adenike Oladosu e a escritora Cristina Rivera Garza.






Novas Cartas Portuguesas, 1ª edição

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

Estúdios Cor, 1972



A escritora e jornalista portuguesa Maria Teresa Horta é descrita como "uma das feministas mais proeminentes de Portugal e autora de muitos livros premiados" destacando as "Novas Cartas Portuguesas", escrito em coautoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. 

Foi editado, em Abril de 1972, pela Estúdios Cor, dirigida por Natália Correia.

"A Natália foi sempre de uma coragem espantosa. No tribunal, ela foi a primeira a ser ouvida e disse logo:

 “Se alguém tem de ir preso sou eu, porque os senhores não podem proibir ninguém de escrever, podem proibir de publicar. E a responsável de o livro estar cá fora sou eu”. 

Apreendido em Junho, a censura 'catalogou' a obra como 'imoral' (?) e o livro foi proibido e retirado das livrarias. As autoras e o editor, Romeu de Melo, foram incriminados e levados a tribunal. O caso só terminou com a revolução de 25 de Abril de 1974. Nessa altura, já era um best-seller no país e no estrangeiro.






As 3 Marias
créditos: Museu do Aljube


O impacto internacional divulgado em França pela escritora Simone de Beauvoir chamou-me de imediato à atenção, até pela divulgação do processo de que as "Três Marias" - assim vulgarmente denominadas, devido ao processo de que foram alvo.





Novas Cartas Portuguesas, 2a edição, 1974

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horts e Maria Velho da Costa

Futura

https://www.livraria-trindade.pt/


Li o livro,  edição 1974. Guardo-o religiosamente, entre vários outros. 


Não lembro onde comprei esta edição. Sei que li o livro com avidez, mas saboreando cada palavra. Era uma nova era da escrita a três, sem sabermos quem escrevera o quê, dado o compromisso, assumido pelas autoras, de nunca revelarem a autoria individual dos vários textos.





Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

via RTP Ensina


A obra "As Novas Cartas Portuguesas"  e as suas autoras foram alvo de defesa pública internacional de várias e conceituadas personalidades. Marguerite DurasDoris LessingIris Murdoch e Delphine Seyrig.


O livro Novas Cartas Portuguesas adquiriu uma enorme carga simbólica. Jamais pensaram as autoras que o seu livro provocaria tantas manifestações, mesmo a nível internacional.


Infelizmente duas das escritoras já nos deixaram, Maria Isabel Barreno [1939-2016], e Maria Velho da Costa [1938-2020]. Só Maria Teresa Horta continua activa a escrever. 






Maria Teresa Horta 
crédito: Autor não identificado
via Google Images Archive

Posso sentir-me perto de Maria Teresa Horta, como 'amiga'. Nunca a conheci pessoalmente com pena minha. Leio muitos dos seus últimos poemas. Agora mais escassos.


Tem Livros belíssimos! Mais de 30. Vários premiados. De alguns, lêem-se por aqui vários excertos. 


Mas o que mais admiro é a sua poesia. Alguns poemas e curtas passagens de poemas de Maria Teresa Horta fui deixando também por aqui... 


"Eu sou a minha poesia. Eu não faço nada para que a poesia não seja eu."

Maria Teresa Horta





Maria Teresa Horta [1937-2025]
via RTP

Maria Teresa Horta morreu neste dia, 04 de Fevereiro 2025. A última das 'Três Marias' não resistiu mais. 


– Abram – dizemos – os cortinados, para que a claridade entre e nada fique obscuro ou falso ou escondido 
(...)


Maria Teresa Horta, Quotidiano instável
Crónicas (1968-1972)


Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

11.12.2024

actualizado 04.02.2025

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