Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Tout ce que je connais de moi c'est ce que me raconte le vent: la médiunnité des branches qu'il agite. Natália Correia
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Last day of January
E hoje termina Janeiro. Aquele mês que sempre achamos interminável, o mais longo. Sentimos mais o frio, a tristeza da natureza despida. O gelo que trespassa. A falta do sol. O excedente das nuvens plúmbeas. E tanta chuva caíndo de um firmamento que parece choroso do mundo que nos envolve.
Inexplicavelmente, este ano, Janeiro passou mais lesto. Como fugindo do mundo. Ou fugindo de nós.
Será que fomos nós que deixámos fugir Janeiro? Ficou tanta coisa por fazer, por dizer...
Janeiro foi, para além da natureza sem graça, das noites frias, dos dias fugidios que anoitecem tão cedo, um mês ainda mais triste.
Ficámos sem David Lynch, o grande cineasta, inventor do cinema surrealista que encheu nossos ollhos e sentimentos de coisas belas, inesperadas e jamais vistas. Não pela idade. Mas sim pelo tabaco que lhe causou um efisema pulmonar mortal.
"What bouillabaisse of ingredients combines to make something not just creepy, not just Surrealist, not just thrillingly unnerving, but uniquely “Lynchian,” that amorphous shorthand that we’ve thrown around ever since the director’s 1977 debut feature Eraserhead became a near-instant cult classic."
David Foster Wallace,
in Vogue, March 2017
Esta a autêntica definição académica de 'Lynchian'. Mas Lynch tornou-se imortal deixando para a história do cinema algumas das obras mais marcantes. Filmes enigmáticos, originais.
Filmes inesquecíveis como Mulholland Drive (2001), and Lost Highway (1997). E claro, Twin Peaks.
E quase a terminar Janeiro 30, veio outro triste desaparecimento. Marianne Faithfully, a cantautora, actriz e poeta britânica. Começou a sua carreira com uma balada de Mick Jagger e e Keith Richards, As Tears Goes Bye (1964). Mas Marianne foi muito mais além.
It is the evening of the day I sit and watch the children play Smiling faces I can see, but not for me I sit and watch as tears go by
(...)
It is the evening of the day I sit and watch the children play Doing things I used to do, they think are new I sit and watch as tears go by.
Marianne Faithfully, As Teas Goes Bye
Dexemos Janeiro, este primeiro mês de 2025! E esperemos um Fevereiro com saúde, paz, sol, amor... o resto? É só o resto!
Miosótis (pseudónimo)
31.01.2025
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Maria Teresa Horta, jornalista, escritora, e poeta faz parte da BBC 100 Women 2024
"Writer and journalist Maria Teresa Horta is one of Portugal’s most prominent feminists and author of many award-winning books, but she is perhaps best known as co-author of the internationally acclaimed Novas Cartas Portuguesas (New Portuguese Letters), written with Maria Isabel Barreno and Maria Velho da Costa."
BBC 100 Women 2024
"The BBC has revealed its list of 100 inspiring and influential women from around the world for 2024."
Entre elas estão estão a astronauta Sunita Williams, a sobrevivente de violaçóes Gisèle Pelicot, a actriz Sharon Stone, as atletas olímpicas Rebeca Andrade e Allyson Felix, a cantora Raye, a vencedora do Prémio Nobel da Paz Nadia Murad, a artista visual Tracey Emin, a activista climática Adenike Oladosu e a escritora Cristina Rivera Garza.
Novas Cartas Portuguesas, 1ª edição
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa
Estúdios Cor, 1972
A escritora e jornalista portuguesa Maria Teresa Horta é descrita como "uma das feministas mais proeminentes de Portugal e autora de muitos livros premiados" destacando as "Novas Cartas Portuguesas", escrito em coautoria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa.
Foi editado, em Abril de 1972, pela Estúdios Cor, dirigida por Natália Correia.
"A Natália foi sempre de uma coragem espantosa. No tribunal, ela foi a primeira a ser ouvida e disse logo:
“Se alguém tem de ir preso sou eu, porque os senhores não podem proibir ninguém de escrever, podem proibir de publicar. E a responsável de o livro estar cá fora sou eu”.
Apreendido em Junho, a censura 'catalogou' a obra como 'imoral' (?) e o livro foi proibido e retirado das livrarias. As autoras e o editor, Romeu de Melo, foram incriminados e levados a tribunal. O caso só terminou com a revolução de 25 de Abril de 1974. Nessa altura, já era um best-seller no país e no estrangeiro.
O impacto internacional divulgado em França pela escritora Simone de Beauvoir chamou-me de imediato à atenção, até pela divulgação do processo de que as "Três Marias" - assim vulgarmente denominadas, devido ao processo de que foram alvo.
Novas Cartas Portuguesas, 2a edição, 1974
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horts e Maria Velho da Costa
Futura
https://www.livraria-trindade.pt/
Li o livro, edição 1974. Guardo-o religiosamente, entre vários outros.
Não lembro onde comprei esta edição. Sei que li o livro com avidez, mas saboreando cada palavra. Era uma nova era da escrita a três, sem sabermos quem escrevera o quê, dado o compromisso, assumido pelas autoras, de nunca revelarem a autoria individual dos vários textos.
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa
via RTP Ensina
A obra "As Novas Cartas Portuguesas" e as suas autoras foram alvo de defesa pública internacional de várias e conceituadas personalidades. Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch e Delphine Seyrig.
O livro Novas Cartas Portuguesas adquiriu uma enorme carga simbólica. Jamais pensaram as autoras que o seu livro provocaria tantas manifestações, mesmo a nível internacional.
Infelizmente duas das escritoras já nos deixaram, Maria Isabel Barreno [1939-2016], e Maria Velho da Costa [1938-2020]. Só Maria Teresa Horta continua activa a escrever.
Posso sentir-me perto de Maria Teresa Horta, como 'amiga'. Nunca a conheci pessoalmente com pena minha. Leio muitos dos seus últimos poemas. Agora mais escassos.
Tem Livros belíssimos! Mais de 30. Vários premiados. De alguns, lêem-se por aqui vários excertos.
Mas o que mais admiro é a sua poesia. Alguns poemas e curtas passagens de poemas de Maria Teresa Horta fui deixando também por aqui...
"Eu sou a minha poesia. Eu não faço nada para que a poesia não seja eu."
Maria Teresa Horta
Maria Teresa Horta morreu neste dia, 04 de Fevereiro 2025. A última das 'Três Marias' não resistiu mais.
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite com flores
11.12.2024
actualizado 04.02.2025