Affection
Joana Rêgo, 2001
Acrílico sobre tela de linho
"Porquê, afinal ? Porque de tempos a tempos há coisas que me tocam. Ainda."
Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi, Diário I,
Edições Asa, 1992
E Setembro adentrou-se! Quente, harmonioso, entre céu e mar! Verdadeiro Setembro. Tempo(s) de regressos.
Dave McKean
Um fio de paixão pela escrita recomeçou a emaranhar-se nos dedos tão inquietos quanto o ritmado e fulgente pensamento!
Mãos que poisaram mansamente em tardes quentes, de sabores a maresia e brilho azul-prata. Tempos esparsos de acalmias, percorrendo desenfreadamente as folhas de alguns dos livros que acompanharam meus lugares de interioridade.
"Escolho o livro como uma carícia silenciosa, a gesta da reconciliação com o mundo: desejo de fluidez, de ternura que se entorna num gesto desajeitado, esforço para reconduzir a alegria a este rosto encostado à tristeza como a um vidro de aquário."
Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi, Diário I,
Edições Asa, 1992, pág 23
Será difícil, é certo porque eu sou mesmo assim! Mas tentarei, na simplicidade dos afectos.
Alguns acontecimentos me tocaram nestes tempos soltos de final de verão!
O mais triste, a partida dolorosa, sofredora, de Eduardo Prado Coelho colheu-me de um toque abrupto, de volta à realidade que não se compadece dos distraídos olhares.
Homem de vasta cultura, "abriu à cultura portuguesa as portas da divulgação internacional e foi entre nós o mais informado divulgador, por mais de três décadas, de autores, de obras, de tendências."
In Memoriam*
"Dias perfeitos, redondos como pedras, nítidos, coincidentes, plenos, drapejados. Contudo nada foi tão perfeito como a relação contigo: um braço sobre os ombros, a mão nos cabelos, a sabedoria da amizade, o afecto infinito. Talvez eu ainda não estivesse preparado para uma tal exigência. Mas pouco a pouco percebi que havia um encontro inadiável."
Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi, Diário I,
Edições Asa, 1992, pág 24
"Se eu tivesse uma ilha, os meus amigos chegavam em barcaças, cantavam baladas de marinheiros, bebiam sidra, deitavam-se com a boca salgada, faziam amor e adormeciam.
Na falta de uma ilha, um livro."
Na falta de uma ilha, um livro."
Eduardo Prado Coelho, Tudo o que não escrevi, Diário I,
Edições Asa, 1992, in Sinopse
"O actor mais disponível, mediático e plural da cena portuguesa da sua geração e do nosso tempo”.
Eduardo Lourenço
Até sempre !
fragmentos da noite com flores, em jeito de emocionada homemagem
*RCL nº 38, “Mediação dos Saberes”, Dezembro de 2007, pp. 15-16
03.09.2007
actualizado 03.09.2023
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27 comments:
A escolha de um livro é algo pertubante, pode pôr um ser humano numa dimensão que nem ele sabia que poderia atingir...
A escolha de um livro é sempre um acto intimista! Falo de mim... como sempre!
As leituras são 'devastadoras', sim, por vezes!
Este livro não é leitura recente, é o meu tributo a um pensador literário e social 'contestado', mas 'respeitado'!
Prenunciava uma viagem para a interioridade que poucos notaram!
Sensibilizada por ñ me teres esquecido!
Passo para te ler, para beber as palavras e lembrar.
Agradeço as tuas.
bj
Gui
coisasdagaveta.blogs.sapo.pt
Eu não conhecia o autor, mas os fragmentos escolhidos são muito bonitos, me transmitem doçura de sentimentos...
E a suas palavras, Miosotis, nessa "simplicidade dos afectos", fazem uma bonita homenagem.
Um abraço.
Que alegria de ver teu olhar em 'fragmentos', Gui!
E de saber que estás de volta ao teu espaço!
Sensibilizada pelos afectos,
bjs
Era um homem de cultura, dos maiores do nosso país, embora esta opinião não seja consensual!
Estes excertos pertencem a um dos seus Diários... neles já se adivinha uma sensibilidade que Prado Coelho nem sempre deixou transparecer!
Sensibilizada pelo seu olhar em 'fragmentos' Tânia!
Abraço
Siempre alabo tus imágenes que compartes. Buena selección.
Gracias por estar ahí.
Y espero algún día recorrer las calles de mi Pessoa.
Abrazos
Gracias por tus sensibles palabras, Clarice!
Si algún día vienes a recorrer las calles de Pessoa, me encantaria conocerte!
Abrazos
um abraço...
prefiro-(te). na tua bela homenagem.
"Tornei-me invisível.
Em primeiro lugar
para mim própria!"
Oi, Y. miosótis
achei o seu blog por acaso, e
fiquei impressionado com a força
e beleza do seu mini-poema
(você foi a autora?)
Lembrei-me muito de um outro poema
de Cecília Meireles:
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Alex Chan
Belas imagens com maravilhosos apontamentos.
Sensibilizada pelo teu olhar atento, afectuoso, poisado em 'fragmentos', 'Herético'!
um abraço amistoso,
Nota: Ñ percebi em que homenagem 'me' preferes...
Caro 'Anónimo' Alex Chan,
Fiquei impressionada!! Como num primeiro olhar sobre 'fragmentos', apenas se deteve e ajuizou sobre a ínfima parte de mim... mas se foi essa a leitura!?
Gostaria de explicitar que a frase [e não verso nem mini-poema] de apresentação é uma 'adaptação' livre de uma curta passagem que li, um dia, num dos livros de Pedro Paixão.
Quanto ao lindo mas lúgubre poema da grande escritora Cecília Meireles, eu conheço bem!
Felizmente que não me encontro nesse estado de 'degradação' intimista que a poetisa tentou expressar profundamente, num 'fingimento poético' exaustivo... Sinto-o como um reflexo do total desencanto!
Sensibilizada pelo seu olhar e pelo poema aqui poisado. Os grandes escritores só enriquecem nossos humildes espaços!
Sensibilizada pelo olhar atento, 'Pepe', em 'fragmentos'!
Foi bom lê-lo de novo.
Homenagem a alguém que eu admirava, embora nem sempre concordasse com ele.
Um beijo
Daniel
Olá Miosótis
Perfeita e elucidativa junção de fragmentos de escritos de Eduardo Pedro Coelho.
É uma linda e merecida homenagem.
Abraço
Eu também o admirava imenso pela vastidão de saberes culturais!
Foi um dos pensadores mais importantes do nosso país.
Sei que coleccionou imensos ódios pela sua postura, personalidade... mas 'refez' alguns caminhos.
Que bom ver teu olhar aqui poisado!
bjs
Olá Rui,
Apenas tentei dar a conhecer, relembrar... o outro lado de Prado Coelho!
Sensibilizada pelo teu olhar em 'fragmentos'!
Um abraço,
Gosto muito do que escreves e seleccionas para postar no teu blogue.
Aguardo novo post. Embora passe no sil�ncio, gosto de aqui estar e ler as palavras que nos ofereces.
Beijinhos
Bom Regresso.
Setembro é o mês da dádiva e da recolha. Traz-nos a beleza musical dos tons e leva-nos o sol.Sempre que o sol desaparece com eles vão outras pequenas estrelas cintilantes ou simplesmente cadentes. Prado Coelho foi estrela brilhante no céu da cultura. Bem Haja!
Bj.
Os toques intimistas abrem algumas janelas da alma. Espero que não desistas deles, porque dão doçura às tuas palavras.
Saudações!
Hoje, venho noutra "pele", numa mais antiga, aquela que me é singular, profunda e sentida, hoje, deixo-te o caminho onde mais vagueio para não perdermos tanto o contacto. Sou, aquele Peregrino que bem conheces. Quanto ao livro, costumo dizer que cada um contém uma alma, um espírito diferente, um sonho de alguém, uma lágrima de ninguém. Deixo-te um Beijo Sentido...
Perdoa-me pelo erro, o caminho é este...
Beijo Sentido
Sensibilizada pelo teu olhar amistoso aqui poisado, 'Sophiamar'!
Apenas escrevo sobre o que sinto em afectos de meus dias!
bjs
Setembro é sem dúvida o mês da melancolia, pela luminosidade brilhante, quente, em despedida, e alguns seres acompanham esse movimento...
Prado Coelho despediu-se um pouco mais cedo... não esperou esta acalmia lânguida.
Ele é uma referência da nossa culturalidade e não só no país!
Apesar dos 'ódios' que viu nascer, Prado Coelho tinha este outro lado...
É muito bom voltar a ler teu olhar, 'Mateso'!
bjs
'Twlwyth' é bom ler teu olhar aqui de novo!
Eu sei... mas nem todas as janelas da alma são para abrir!
Apesar de tudo, quando escrevemos, deixamo-nos percorrer pelos afectos e isso traduz-se em alguns momentos intimistas!
bjs
Saudações 'Peregrino'!
Bem reconheço tua 'pele' seja ela nova ou mais antiga...
Os afectos, por vezes, passam nos 'desencontros', e podem virar 'desafectos', esquecimentos, momentos tristes!
Os livros, esses permanecem porque guardam pedaços de noss'alma que envolvem com carinho, e não deixam cair em folhas soltas, nossos desabafos!
Muito sensibilizada pelo caminho deixado e pela vontade/desejo de não perder o contacto, apesar de teus vagueares...
Reenvio um beijo sentido
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