Tuesday, January 22, 2013

Seis Sessões: o filme




The Sessions

Há muito não escrevo sobre cinema. E todos sabem como gosto de cinema. É assim como virar-me um pouco mais sobre mim, tempos de acalmia, sentada numa sala, em contra-luz com as imagens e as histórias que saltam para o olhar em completa sincronia. Coisas que me dão prazer.
Muitos filmes em cartaz! Os Oscars estão aí! E quando é assim, de repente, os filmes sucedem-se em ritmo acelerado.

Decidi-me por The Sessions! Lera alguma coisa sobre as personagens e interpretação dos actores, sabia que contava uma história baseada em factos verídicos. 

Precisava mesmo de uma história intimista, de sentimentos, e bem contada. Gosto de filmes de afectos.


As salas de cinema andam mais vazias. É natural. Mas mesmo assim, uma plateia seleccionada e interessada. Pessoas que estavam ali para aquele filme.
Detesto entrar numa sala de multidões, muita pipoca. algum barulho. Ali não, independentemente do nível etário que era variado, todos silenciosos, expectantes, interessados.

Afinal, é para fugir do stresse diário, que sempre que posso, em final de tarde de fim-de-semana, me instalo tranquilamente num lugar silencioso em volta, recolhida, frente ao grande ecrã de som digital. Cinema é mesmo em sala de cinema. 


Seis Sessões (2012)
The Sessions, que em português foi traduzido para "Seis Sessões", (não sei muito bem qual a lógica da tradução de títulos de filmes), mas enfim, não é a mais adequada. Pode induzir em erro, porque na realidade não é bem assim. Deixarei que entendam quando forem ver. Aconselho vivamente.

O filme apareceu no Sundance Film Festival (2012) e arrebatou alguns prémios. Se não viu The Sessions, prepare-se para ir ver.

Pelo trailer que vira há umas semanas, fui remetida para dois outros filmes, franceses por sinal, realizados por autores diversos. Intouchables (2011) que no nosso país saiu com o título "Amigos Inseparáveis" com os excelentes actores François Cluzet Omar Sy e um outro menos recente (2007) mas inolvidável Le Scaphandre et le Papillon com Mathieu Amalric.

Sinopsis do filme:

Mark O'Brien (personagem real) interpretada por John Hawkes é um escritor, poeta e cronista, profundamente católico que, ainda criança, contraira poliomielite. Devido à doença, perdeu os movimentos do corpo, com excepção dos da cabeça. Decide tirar um curso universitário. No entanto, tem  uma vida repleta de limitações, entre elas a de sair de sua própria casa, seus pulmões não aguentariam trabalhar sozinhos mais do que três, quatro horas. Daí viver entre uma maca e um aparelho apelidado de "pulmão de aço". 


Cheryl Green | Helen Hunt

É neste mundo limitado que Mark procura uma terapeuta de sexo (Helen Hunt) e contrata seis sessões de terapia sexual.

E aqui começou a minha dúvida. Como falar ou escrever sobre um filme que fala de sexo sem ser vulgar, perguntava-me! Mas o filme não fala de sexo. E muito menos de sexo vulgar. Fala de afectos.

Pois bem, The Sessions, é um filme feito de sentimentos, e consegue responder à questão, de uma forma natural, com momentos de terno humor, e sem falsos preconceitos. 

Um padre, Father Brendan (William H. Macy), surge também no filme, como a voz de uma consciência 'avaliadora' dos actos e pensamentos de Mark. Uma voz humanizada de um elemento da religião católica que gostei profundamente de ver. E com um bom sentido de humor.



Father Brendan (William H. Macy)
& Mark O'Brien (John Hawkes)

Mark passa os dias entre o trabalho em casa e as visitas à igreja Aí conversa com o padre Brendan (William H. Macy), seu amigo pessoal. Sentindo-se incompleto por desconhecer o sexo, Mark decide finalmente passar por uma terapeuta sexual. Cheryl Cohen Greene (Helen Hunt) é uma especialista em exercícios de consciência corporal, que o vai ajudar a conhecer melhor o seu corpo e a despertar para sensações.




Cheryl Greene (Helen Hunt
& Mark O'Brien (John Hawkes)

Um filme onde o sexo é ou parece ser o tema central, mas desengane-se. É muito mais do que isso. É uma história de vida, em que o sexo entra, normal, e é tratado de uma forma tão natural, tão carinhosa e doce, como raramente se tem oportunidade de ver.



Cheryl Greene (Helen Hunt
& Mark O'Brien (John Hawkes)

A história da vida de Mark O'Brien é profundamente comovente e, ao mesmo tempo, surpreendentemente divertida. Um homem que contraira poliomielite quando criança, ficando paralisado dos músculos, e que aos 38 anos, decide perder a virgindade.

Mas enquanto as sessões decorrem, vemos que não era só sexo que Mark procurava. Sexo é apenas o começo para o afecto que ele não tinha. Mark busca acima de tudo uma ligação emocional. Este foi provavelmente um dos aspectos mais significativos da sua vida.


A história real do jornalista e poeta Mark O'Brien, é poderosa, comovente e por vezes, extremamente divertida.

Helen Hunt e John Hawkes são dois actores brilhantes que concedem à história a naturalidade necessária e encantadora de um filme de afectos. Uma história de vida.

Hawkes (Mark O'Brien) acabou por confessar que desempenhar uma personagem com tantas restrições físicas o intimidara. 

"Mas a personagem é tão humana, tão cheia de vida, tão engraçada - irresistível  na realidade."


A já premiada actriz Helen Hunt desempenha a personagem Cheryl, a  terapeuta de sexo. Confesso que não sabia da existência desta profissão. 

A qualidade de sua actuação é tão convincente que está nomeada pela Academia para 'Melhor Actriz'.

É surpreendente que John Hawkes não tenha também sido nomeado para 'Melhor Actor' pela sua fantástica interpretação.




O filme é baseado no artigo escrito por Mark O'Brien intitulado "On Seeing a Sex Surrogate.
Uma história linda, comovente, luminosa, e cheia de humor, interpretada por dois belíssimos actores. O filme é realizado por Michael Lewin

Uma excelente banda sonora que não se sobrepõe à história, permanece discreta, mas interessante.

 
"It's a rare film that emphasises sex and disability, while accepting that they're a normal part of life."

Nicholas Barber, The Independent

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite com flores

21.01.2013
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2 comments:

Virgínia do Carmo said...

Como sempre, uma sugestão excelente e excelentemente "contagiada".

Obrigada, Miosótis. Saudades de vir aqui. :)

Beijinhos

MS said...

Foi muito bom receber tua visita, Virigínia.

Verdade, um filme que vale a pena, mesmo! Mensagens muito humanas!

Grande beijinho