Vista para o mar | Costa do Oeste
Fotografia: Francisco Mendes
"Esse período pode ser muito reconfortante e melancólico. Reconfortante porque todas as lembranças e cicatrizes assentam, são processadas pela memória, narradas a nós próprios devagarinho, encontram um lugar na organização da cabeça. Melancólico exactamente pelo mesmo motivo. Esse é um período em que se contempla um tempo que, ali, se sabe com muita certeza que não voltará."
José Luís Peixoto, O vagabundo regressa a casa*
Depois de umas curtas férias pela Costa Oeste que não revia há algum tempo, eis-me de volta a este espaço que continuo a querer partilhar, embora com pouca assiduidade, eu sei.
Parque D. Carlos I
Foto: Miguel de Azevedo e Castro
Foi bom! Lugares 're'visitados trazem sempre à memória fragmentos de vida que guardamos. E apesar de vivermos num mundo em que informação é uma constante, o nosso cérebro, tal como o poeta escreve, processa essas lembranças. E cada olhar, som, aroma, despoleta de imediato a narrativa poética.
Percorri alguns locais, saltitei entre as imensas praias que esta costa nos oferece, com paisagens deslumbrantes, quando vistas do alto, e algumas cidades que as autoestradas deixam longe do olhar.
Grande Auditório CCC | Caldas da Rainha
Pela foto, reconheceram de imediato Caldas da Rainha. Uma cidade que cresceu, sem dúvida. Um moderno Centro Cultural e Congressos que visitei, sem ter acesso a este belíssimo Grande Auditório. Nenhum concerto estava agendado para esta época do ano.
Museu José Malhoa | Parque D. Carlos I
Rumei então até ao Museu José Malhoa perfeitamente enquadrado neste sereno e lindo parque, abrindo portas sobre o lago e mostrar a maior parte da obra do seu patrono, bem como uma colecção importante de pintura e escultura dos séculos XIX e XX.
É considerado 'o museu do naturalismo português'. Como se pode constatar, não poderia a temática estar mais de acordo com o espaço onde se insere.
Para além da arte, dois aspectos dignos de realce, vindos, para mais, de um museu de 'província': a disponibilização de um vídeo com língua gestual portuguesa, bem como uma brochura em braille.
Mosteiro de Alcobaça
Foto: Autora© (via Android)
É evidente que não poderia deixar de voltar a Alcobaça, percorrer aquelas ruas estreitas, empedradas, bem medievais. E de revisitar o Mosteiro de Cister. Uma sensação de finitude, de recolhimento cai sobre nós. Como se num estado de contemplação meditativo, sem preces.
Túmulo Dom Pedro | Mosteiro de Alcobaça
Foto: Autora© (via Android)
Impensável não parar junto de Pedro e Inês. Interessante, jazia Pedro quase abandonado, enquanto Inês, estática, se via rodeada de um enorme grupo de turistas italianos que seguiam atentamente toda a história da infeliz Inês.
Senhora da Assunção | Mosteiro de Alcobaça
Foto: Autora© (via Android)
Mas foi esta imagem que me deslumbrou. Poisada num dos pedestais laterais, quase por trás do altar central, sobressaia do peso da pedra que a circundava. Uma serenidade nos gestos, a beleza da madeira esculpida, a arte da estatuaria portuguesa do século XVII.
E foi tempo de regressar...
"A casa está exactamente como ficou. (...) Então, antes de desfazer a mala, apetece sentar no sofá, senti-lo.
(...)
Então, a casa é mesmo casa. O corpo recupera segurança, (...) A casa é como aquele lugar em que não podíamos ser apanhados quando brincávamos à apanhada. A casa é como um abraço."
José Luís Peixoto, O vagabundo regressa a casa*
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite com flores
09.09.2012
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* Textos de José Luís Peixoto: blogue do autor