Matt Cardy | Getty Images
É Natal! E que escrever? Que Natal acontece? Ando por aqui. Os dedos poisam no teclado. Paralisados.
Nas noites o silêncio faz-se ainda mais profundo. Percorro as palavras, busco sons, oiço risos de crianças? Não! Nos espaços que percorro, só oiço crianças que choram. O meu país já não tem crianças alegres.
E Natal não é para as crianças? Pois eu então quero falar de crianças. O mundo cresce de maneira anárquica, quase perversa. E as crianças não têm nele um lugar bem definido.
Mães que não são mães. Arrastam crianças como fardos, indiferentes, descuidadas, olham as montras, não olham as crianças.
É como se o coração gelasse. E os dedos não reagem. Que civilização é esta? E recolho-me envergonhada, entristecida, nesta noite quase Natal!
Peço inspiração, medito.
E que escrever perante o olhar dessas vinte crianças que, confiantes, preparavam o Natal entre lápis de cor.
Ergo então uma prece. Peço aos anjos lá no Universo que, nessa noite, desçam mais perto desses pais, e permitam que eles oiçam o riso de seus filhos correndo pela casa, felizes, porque a noite de Natal chegou.
Anoiteceu, apagamos a luz, e depois
como uma foto que se guarda na carteira,
iluminam-se no quintal as flores da macieira
e, no papel de parede, agitam-se as recordações.
(...)
Manuel António Pina, Como se desenha uma casa
Assírio & Alvim, 2011 (excerto)
Para todos que passarem neste lugar de afectos e palavras, votos de um Natal em paz!
Miosótis (pseudónimo)
23.12.2012
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