Fotografia: Fabrizio Brensh | Reuters 2007
A Penélope da literatura greco-clássica, embora no silêncio de Ulisses, à distância, pela época em que a comunicação era vaga e restrita, sabia, por todo o amor que este lhe dedicara até o marido partir, que Ulisses tudo faria para voltar ao seu eterno e amorável abraço, àquelas mãos que pressentiam cada recanto de seu ser.
Mãos femininas, únicas no afago, que tocavam e acariciavam, numa transcendente afeição de gestos leves, soltos, ternos, suaves como pétalas aveludadas, aquela alma e aquele corpo.
Mãos femininas, únicas no afago, que tocavam e acariciavam, numa transcendente afeição de gestos leves, soltos, ternos, suaves como pétalas aveludadas, aquela alma e aquele corpo.
E corajoso, afoitou as intempéries do tempo e da distância, para regressar a sua Penélope, à deusa de seu imenso querer! Precisava, ansiava, era-lhe vital na sobrevivência de sua essência, descansar ao lado de Penélope, sentir a ternura, a tranquilidade de todo um amor comungado!
E a Penélope da ficção contemporânea, será que a ela lhe são desvendados sopros de amoroso afecto?!
Ou será que Penélope, a cada suspiro de saudade, a cada gesto de ternura envolto, independentemente do tempo e da distância, porque há amores talhados pelos deuses, apenas recebe silêncio, silêncio, o silêncio?!
Será que Penélope pressente a incerteza do afecto que paira no coração de um Ulisses... sabendo ele, já Minerva lho vai recordando a cada instante, que Penélope o espera pacientemente, amoravelmente, na praia, em cada dia, perscrutando o horizonte em tempos de acalmia ou tempestade, perguntando em silêncios ao universo, aos aromas de maresia, às espraiadas conchas trazidas pelas ondas, aos búzios de sons de mar, ao infinito azul, se novas lhe trazem de seu mais íntimo afecto?
Não sei...
Miosótis (pseudónimo) ©2007
ficção original© em resposta a Carta a Penélope, de um blogue amigo desaparecido.
26.10.2006
26.10.2006
29.04.2007
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