Cada coisa
Cada coisa tem o seu fulgor,
a sua música.
Na laranja madura canta o sol,
na neve o melro azul.
Não só as coisas,
os próprios animais
brilham de uma luz acariciada;
quando o inverno
se aproxima dos seus olhos
a transparência das estrelas
torna-se fonte da sua respiração.
Só isso faz
com que durem ainda.
Assim o coração.
Eugénio de Andrade, in "Poesia", Assírio & Alvim, 2017
E Outono voltou! Aspira-se o tempo ainda com o aroma de Verão. Torna mais doce esta passagem abrupta de dias quentes, cheios de luz, para uma frescura que já pede algum agasalho.
Um Outono que traz folhas soltas, e árvores quase desnudadas, apesar das cores quentes, ocre, amarelo, à mistura com algum verde. Ainda.
Um Outono que traz folhas soltas, e árvores quase desnudadas, apesar das cores quentes, ocre, amarelo, à mistura com algum verde. Ainda.
Hai-Kai de Outono
Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?
Mas hoje é diferente! Outono entra com música. Pois é. Não podemos esquecer que neste dia, 1 de Outubro se festeja a música. A música que nos acompanha sempre, que purifica nossas melancolias, tristezas.
Música
créditos: Francisco Simões (escultor)
"A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende."
Arthur SchopenhauerUm dia vivido intimamente. Cada um de nós sente a música, segundo a sua alma.
O Dia Internacional da Música, comemorado anualmente a 1 de Outubro, foi instituído em 1975 pelo International Music Council, instituição fundada em 1949 pela UNESCO e que agrega vários organismos e individualidades do mundo da música.
Sempre celebro este dia. Ouvindo música. Escrevendo sobre música. A música apazigua os mais íntimos pesares. Os dias de desassossego.
Celebro a música, portanto. Inspiradora da Vida. Em cada momento.
"A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia.
Ludwig van Beethoven
Mas o Dia Internacional da Música remete-nos para Charles Aznavour que desapareceu, faz hoje um ano. No Dia Internacional da Música. Música que o cantor expressou com tanto talento.
Juliette Gréco [1927-2020]
créditos: Autor não identidicado, 1966
via Bonjour Paris
E para Juliette Gréco, a musa inspiradora do Existencialismo, e da boémia da Rive Gauche. La grande dame de la chanson française:
"JulietteGréco, the singing muse of bohemian postwar Paris who became the grande dame of chanson française..."
New York Times
A cantora e ícone da canção francesa Juliette Gréco, que cantou Léo Ferré, Jacques Prévert e Serge Gainsbourg, entre outros, morreu no passado dia 23 de Setembro.
"She became the musical embodiment of the Existentialist movement. Although she seemed the most modern of performers, Gréco belonged to the grand tradition of Parisian chanteuses."
Patrick O'Connor, The Guardian
Dois nomes incomensuráveis da chanson française. Final de uma época, sem dúvida.
"Ce métier, je le fais pour plusieurs raisons, mais l’une des plus évidentes est que je voulais qu’on m’aime."
Juliette Gréco
Miosótis (pseudónimo)
01.10.2020
Copyright ©2020-fragmentosdanoitecomflores Blog, fragmentosdanoitecomflores.blogspot.com®