Kate Stuart/ Flickr 2010
«É superficial encarar um diário apenas como um receptáculo dos pensamentos privados e secretos de cada um - como um confidente surdo, mudo e analfabeto. No diário não só me exprimo de uma forma mais aberta do que faria com qualquer pessoa, mas crio-me a mim própria. O diário é um veículo para o meu sentido de individualidade. Representa-me como emocional e espiritualmente independente. Em consequência (infelizmente) não é um registo simples da minha vida diária - e em muitos casos - oferece uma alternativa a ela.»
(da entrada de 31 de Dezembro de 1957)
Susan Sontag, Renascer, Diários e Apontamentos (1947-1963)
Quetzal, Junho 2010
Fragmentos da noite com flores não é um diário! Já o escrevi! Mas encerra uma íntima parte de minh'alma... também já o escrevi.
Páginas avulsas, onde exprimi tonalidades secretas de meu ser que jamais expus em tempo real. Introspecção fragmentada.
Quando aqui escrevo, não sou outra, sou eu, apenas reinventada, solta, suave, talvez mais vibrante. Em fragmentos ofereci-me algumas alternativas de vida (infelizmente).
Nunca tentei escrever diariamente! Nem tão pouco metodicamente. Seria incapaz. Por que razão? Apenas porque sou um ser demasiado interiorizado.
Em fragmentos da noite, sempre, porque o silêncio se adentra, e é quando eu encontro meu tempo de materializar em palavras, uma a uma, como flores que desabrocham e se desmancham pétala a pétala, e se ouvem na ausência do ruído, alguns estilhaços de dias mais limitativos.
Não são queixumes fragmentados! Longe disso! São emoções singelas, como quem conversa com seu eu, em divinas abstracções do infinito.
Ao ler este excerto do primeiro diário (edição portuguesa) de Susan Sontag detive-me, como que em jeito meditativo. E deixei fluir na brumosa noite de um estranho verão, estes instantes em que sou!
«É de onde um bater de asas celeste se ouve
que tudo começa...»
Nuno Júdice, Angelus
Cartografia de Emoções, Dom Quixote, 2001
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite com flores, excertos
fragmentos da noite com flores, excertos
21.07.2010
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6 comments:
Escrever talvez seja "esmiuçar" a alma... uma espécie de exploração do "auto-conhecimento". Talvez por isso sinto que cresço quando escrevo... Talvez seja assim com toda a gente!
Um terno beijo
... não sei Virgínia... eu diria que escrever talvez seja deixar fluir a alma.
'... uma espécie de exploração do "auto-conhecimento"...' penso que já o fazemos na interioridade do silêncio. não achas? Mas ao escrever, damos voz, isto é, talvez como escrevi...' materializamos em palavras'.
Um beijo afectuoso,
Miosotis,
Revejo-me nas tuas palavras. sim... fragmentos, talvez porque á noite todas as emoções são mais intensas!
Um beijo!
AL
Sem dúvida, Miosotis... Escrever é uma espécie de materialização... Acho que tens razão!
Outro terno beijo para ti!
.. quanto tempo A.S.!
Sim, a noite tem uma atmosfera diferente, mais intimista, não é mesmo?!
Como foi bom 'rever-te' em fragmentos!
Um beijo,
... bem, o que diz exprimir, Virgínia é que a intensidade emocinal é, por momentos, 'materializável' em palavras, mesmo que efémeras...
Terno beijo para ti!
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