Wednesday, July 21, 2010

fragmentos da noite em jeito de diário





Kate Stuart/ Flickr 2010



«É superficial encarar um diário apenas como um receptáculo dos pensamentos privados e secretos de cada um - como um confidente surdo, mudo e analfabeto. No diário não só me exprimo de uma forma mais aberta do que faria com qualquer pessoa, mas crio-me a mim própria. O diário é um veículo para o meu sentido de individualidade. Representa-me como emocional e espiritualmente independente. Em consequência (infelizmente) não é um registo simples da minha vida diária - e em muitos casos - oferece uma alternativa a ela.»

(da entrada de 31 de Dezembro de 1957)
Susan Sontag, Renascer, Diários e Apontamentos (1947-1963)
Quetzal, Junho 2010

Fragmentos da noite com flores não é um diário! Já o escrevi! Mas encerra uma íntima parte de minh'alma... também já o escrevi. 

Páginas avulsas, onde exprimi tonalidades secretas de meu ser que jamais expus em tempo real. Introspecção fragmentada.

Quando aqui escrevo, não sou outra, sou eu, apenas reinventada, solta, suave, talvez mais vibrante. Em fragmentos ofereci-me algumas alternativas de vida (infelizmente).

Nunca tentei escrever diariamente! Nem tão pouco metodicamente. Seria incapaz. Por que razão? Apenas porque sou um ser demasiado interiorizado.

Em fragmentos da noite, sempre, porque o silêncio se adentra, e é quando eu encontro meu tempo de materializar em palavras, uma a uma, como flores que desabrocham e se desmancham pétala a pétala, e se ouvem na ausência do ruído,  alguns estilhaços de dias mais limitativos.

Não são queixumes fragmentados! Longe disso! São emoções singelas, como quem conversa com seu eu, em divinas abstracções do infinito.

Ao ler este excerto do primeiro diário (edição portuguesa) de Susan Sontag detive-me, como que em jeito meditativo. E deixei fluir na brumosa noite de um estranho verão, estes instantes em que sou!

«É de onde um bater de asas celeste se ouve
que tudo começa...»

Nuno Júdice, Angelus
Cartografia de Emoções, Dom Quixote, 2001


Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores, excertos
21.07.2010
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Monday, July 12, 2010

Interioridade




'...e o silêncio cresce e é fundo e é total, de tal modo que poucos notam que é apenas silêncio...'


Teolinda Gersão, O Silêncio, pág. 110
Bertrand, 1981, 1ª edição



Sim, esta curta passagem encaixa-se profundamente em mim! Vivo momentos de grandes silêncios! E nem sempre me afasto deles!


É como que uma segunda natureza que poisa diariamente e se adentra, tal como as noites frescas de verão.


Também poderia senti esses silêncios como grandes viagens de interioridade espiritual que não gostaria ver transformados em sagração.


Talvez sejam travessias... mas estas travessias vêm-se repetindo com prazos longos. Leio, suspendo, deixo de ouvir as vozes, os sons que me rodeiam são pequenas distracções, um carro solitário que passa lá em baixo, na rua. 


A noite está demasiado quieta. Fico apenas atenta ao pensamento que me percorre, nesta madrugada.


'...O tempo passa, as estações deslizam diante da janela,...'

Teolinda Gersão, O Silêncio, pág. 20
Bertrand, 1981, 1ª edição

É tarde! Não olho o relógio. Sinto-o pela quietude da natureza! Tempo de recolhimento. Preciso descansar. Amanhã, quem sabe? - um novo ciclo se rasga em diferente paisagem! 


Miosótis (pseudónimo)


fragmentos da noite com flores

12.07.2010
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