Summer | Sergey Alexey (1925)
És homem ou mulher?
[...] É
a rosa nem branca nem vermelha, a rosa pálida,
vestida com a substância da terra:
a que toma a cor dos olhos de quem a fixa, por
acaso, e ela agarra, como se tivesse
mãos abstractas por dentro das suas folhas. [...]
Nuno Júdice, Arte Poética
Descreve-te:
Apenas
uma coisa inteiramente transparente:
o céu, e por baixo dele a linha obscura do horizonte
nos teus olhos, que pude ver ainda
através de pálpebras semicerradas, pestanas húmidas
da geada matinal, uma névoa de palavras murmuradas [...]
Nuno Júdice, Um Rosto
O que as pessoas acham de ti:
Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. [...]
Nuno Júdice, Nunca são as coisas mais simples
Como descreves teu último relacionamento?
[...]
O perfil cinzento da montanha,
para norte, e a linha azul do mar, a sul,
dão-lhe a moldura cujo centro se esvazia
quando, ao dizer o teu nome, a realidade do
som apaga a ilusão de um rosto.
Nuno Júdice, Elegia
Descreve o momento actual de tua relação:
[...]
Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.
Nuno Júdice, Princípios
Onde querias estar agora?
[...]
Vê de longe
a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Nuno Júdice, Segue teu Destino
O que pensas a respeito do amor?
Lábios
que encontram outros lábios
num meio de caminho, como peregrinos
interrompendo a devoção,
[...]
que silêncio os entontece quando
de súbito se tocam e, cegos ainda,
procuram a saída que o olhar esquece
num murmúrio de vagos segredos? [...]
Nuno Júdice, Soneto
O que é a tua vida:
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
[...]
Nuno Júdice, Segue o teu Destino
O que pedirias se pudesses ter só um desejo?
Confias no incerto amanhã? Entregas às sombras do acaso a resposta inadiável?[...]
Então, por que esperas para sair ao encontro da vida, do sopro quente da primavera, das margens visíveis do humano?
[...]
Nuno Júdice, Carpe Diem
Em jeito de glosa: Em tempos, aArtmus pediu-me que aceitasse este desafio! Um 'meme'!
Nuno Júdice é um dos 'meus' poetas e portanto não foi difícil partir para a escolha de excertos que se pudessem enquadrar nos itens 'pré-definidos'!
Gostaria que lessem este 'meme' apenas como um exercício poético, nada mais!
Espero que ele seja do agrado de 'Mateso'! E sabendo quanto aprecia a música erudita, aqui deixo o acompanhamento que sinto apropriado a este exercício de vida. Poesia em tonalidades dedilhadas ao piano.
A Mateso, agradeço sensibilizada a sua fidelidade a 'fragmentos da noite com flores'!
Miosótis (pseudónimo)
15.07.2009
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Referência:
* Nuno Júdice, obra, Dom Quixote Editores