E ela abriu a janela, espreguiçou-se languidamente, aspirou em profundas sorvedelas, os aromas que subiam do rio cintilante e daquelas árvores frescas, fragrantes, coloridas em tons rosa-bombom, em jeito de orla veneradora do deslumbrante cenário aberto, sereno, ondulante, imenso, à sua frente.
O céu estava tranquilo, nuvens soltas como flocos de branco algodão-doce deslizavam sobre o imenso horizonte e seus olhos quedaram-se absortos, como que invadidos por aquela acalmia universal que vinha depositar-se em si, esparsamente. E então...
Mergulhada de frente
p'ra minha alma solidão,
vejo passar as nuvens soltas
leves brancas translúcidas
como meu coração.
Meus olhos vestidos
de um céu rosa-pastel claro
aquele rosa-claro pastel
com que sempre me cubro
quando contigo sonho!
E são tantas tantas as vezes
que me quedo no infinito
azul celeste.
foto: António Paulo (2006)
Ficção em dia de intransigente silêncio, quando o firmamento vestido de pardo inverno e lacrimoso tempo se transmuta para escorraçar meus pensamentos.
O cheiro a nostalgia dispersa-se no ar húmido e chuvoso. E assim, permaneço selada, trancada, sem espaço ao sonho e ao universo.
Se o vento ignora o meu sentir por que sopra cenários serenos, imaculados, diluídos nos sons das gotas minúsculas que teimosamente caem desse céu que deveria estar engalanado de tons quentes numa tarde de quase verão?!~
Miosótis (pseudónimo)
(reescrito a partir de um mote, 18.08.2005)
fragmentos em tarde chuvosa
15.06.2008
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