Numa outra vida, o acaso fez de mim poeta,
numa outra existência, o destino fez de mim pintor.
Incapaz de lançar fora usos esquecidos,
o mundo me conhece poeta e pintor,
sabe meu nome, identifica o meu estilo. (...)
Wang Wei, Poeta chinês [701-761]
É sem dúvida um dos poetas que mais aprecio, pela singeleza, pela profunda sabedoria das coisas da vida.
Hesitei um pouco. São tantos os poetas que leio e venero!
Ao longo de Fragmentos da noite com flores muitos têm sido os poetas, os prosadores que citei, buscando inspiração, ao deixar correr meu divagar em noites de acalmia ou perturbação.
O sonho e os livros vêm de minha infância. Os livros buscava-os na biblioteca de meus Pais, nos quartos dos irmãos mais velhos, nas viagens.
Hoje passeio-me pelas livrarias, embrenhada nas leituras, divagando entre palavras e paisagens de outros, buscando minhas próprias litanias, sem tempos nem distâncias.
Muitas vezes em final de tarde o faço. É aliciante poisar o olhar nas bancas de livrarias mais recatadas, sentir o cheiro das folhas que se voltam a cada gesto lento de dedos delicados em contacto com os livros, esse prazer inestimável de companhia e sabedoria.
Em tempos, escrevi um curto texto:
Dialogar contigo meu livro?!
Há lá coisa mais deliciosamente cativante e intimista!
Sonoridades inebriantes, espaços soltos, ternas vulnerabilidades, sorrisos coruscantes, maresias de poente.
Tu me ouves, dialogas em tons de confidente, acarinhas docemente meus sonhos, aromatizas meus recônditos de alma que se envolve de eternidade.
Não é só hoje, não! Tu me acompanhas, em todos os momentos de meus dias, em passos curtos ou saltos longos, num abrir e fechar de emoções.
MS (Miosótis, pseudónimo)
(texto original, publicado em 17.02.2005)
Este espaço tem sido dedicado, quase sempre, aos meus prazeres espirituais, musicais, culturais.
É sim, também, um espaço de partilha, em fragmentos de sentires, em fusão de afectos ou apenas em mero exercício solitário.
Aqui tenho poisado ideais esparsos, ligados à estética da construção da memória poética de minhas noites de divagação autêntica, semi-efabulada, semi vivenciada.
E falei, em jeito de crónica, dos afectos que me ligam a objectos, paisagens, pessoas... algumas pessoas, muito poucas, hoje facilmente vulneráveis ao imediatismo do mundo, mas amanhã, quem sabe? lembrando e reconhecendo com nostalgia, a plena fusão de gestos esparsos nas profecias de magos e gnomos, em noites enfeitadas de luar, que se seguiam a dias de sol explosivo.
(...)
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite em paisagem chuvosa, Lisa Gerrard, Indus, best of Lisa Gerrard, 2007
13.06.2007
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