É provável, ele próprio o diz, que um dia destes precise de partir.
Por nos ter oferecido tudo o que tinha.
E esse tudo não foi pouco."
Tout ce que je connais de moi c'est ce que me raconte le vent: la médiunnité des branches qu'il agite. Natália Correia
When the winds of change blow...
As asas da mudança sopram serenamente, Talvez mais serenamente do que as asas de Agosto. Ventosas em extremo.
Mas é verdade que Setembro já sopra melancolia. E eu deixo-me levar sem lutar contra essa melancolia que me arrasta inflexivemente para outras asas mais penosas. Inverno.
Só consigo pensar que o Inverno aí vem. Triste, escuro, e frio. Não gosto do Inverno.
Procuro todos os pedacinhos de luz que vão sendo mais escassos. A noite cai com muita pressa.
Neste final de tarde que traz aromas outonais, o sol ainda tenta resistir - depois de uma manhã cinzentona - mas já vai desmaiando em reflexos prateados sem cor definida. Neutra. Sem aquelas tonalidades esfuziantes.
Quieta, medito sem meditar.
E reescrevo os versos do meu poeta... deixou-nos este ano. No silêncio.
o outono, com a sua melancolia, empresta um estranho
perfume de terra ao espiríto.
excerto de "A contrução do ser"
Nuno Júdice, Cartografia de Emoções,
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dous mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho e arte.
Luis de Camões. Eu cantarei o amor tão docemente
Luís de Camões, um génio arruivado, escrevia como ninguém. Na celebração dos 500 Anos do seu nascimento, pouco se sabe da vida do poeta. Escreveu Os Lusíadas. E dos mais belos poemas da lírica portuguesa.
"Volto às palavras iniciais: este é o mais fascinante livro da nossa poesia, a suprema festa da língua. E não apenas isso: estão aqui alguns dos raros versos – como dizer? – que participam da respiração do mundo e da pulsação das estrelas. Temos de pensar em nomes máximos, Virgílio, Dante, Shakespeare, S. João da Cruz, para encontrar igual esplendor. Igual, não maior. E não são exageros nacionalistas, que nunca tive, nem creio que venha a ter."
"Que eu canto o peito ilustre Lusitano..."
Luis de Camões
Tous les garçons et les filles
Morreu Françoise Hardy, uma das grandes referências da música francesa pop yé-yé. Françoise Hardy, a minha preferida da sua geração. E a mais talentosa.
Cantora, compositora, intérprte voz e guitarra cantava baladas dos seus e nossos amores e desamores.
Voz suave, terna, meio tímida. Doçura na voz e no semblante. As suas composições eram feitas de afectos. Despertavam em nós uma identificação muito próxima. Fazíamos nossas as suas paroles. Verdadeiros poemas de sentimentos intímos.
Um poema que aconselho a ouvir...
Rejoins les étoiles
Black to Black
Sam Taylor-Johnson. 2024
Back to Black, diz-vos algo, certo? O álbum que tornou célebre a inesquecível e imortal Amy WineHouse.
Não, desta vez, não é o álbum, é um filme. Não o documentário baseado em documentos autênticos (2015) sobre Amy Winehouse. É um filme ficcionado, interpretado por Marisa Abela, desconhecida para mim, e talvez muitos outros. Mas com uma parecença física muito próxima de Amy. Transformação bem conseguida, a de Marisa Abela. Filme autorizado pelo pai de Amy Winehouse.
Black to Black
Curiosa, fui ver. Narra na 1ª pessoa, a rápida ascensão da cantora britânica à fama, e à sua queda. E, obviamente, o lançamento do álbum que dá nome ao filme actual. Back to Black.
O filme, não vou designá-lo por biopic sobre uma parte da vida - a mais dolorosa - de Amy Winehouse é realizado por Sam Taylor-Johnson, realizadora de filmes como Nowhere Boy (2009), sobre John Lennon nos seus anos de adolescente, ou As Cinquenta Sombras de Grey (2015). Filmes que não vi.
Canções como Rehab, Valerie ou o tema Back to Black, são interpretados por Marisa Abela dizem os sites especializados. Tive essa sensação. Mas pus em dúvida. No entanto, se assim o afirmam...
É certo que o timbre é muito próximo de Amy Winehouse. Só considerei que os trejeitos que fazia eram demasiados forçados, já que em Amy cantar é extremamente natural, nada forçada ou histriónica. Falo na voz e no modo como cantava.
Black to Black
Sam Taylor-Johnson. 2024
Afirma-se um enredo contado na perspectiva de Amy e no seu relacionamento com Blake, o amor que a destruiu definitivamente. E que inspirou um dos álbuns mais "lendários de todos os tempos”. Back to Black.
O filme foca-se definitivamente no lado mais negro da tão curta vida de Amy. Uma voz belíssima que tinha tudo para dar certo. Oiço-a constantemente.
Black to Black
Sam Taylor-Johnson. 2024
As críticas dos fãs de Amy Winehouse têm sido ferozes. Concordo. É talvez mais um aproveitamento do pai para ganhar dinheiro?! Um filme deprimente.
O facto da família ter permitido devassar o apartamento de Amy para as filmagens, é devastador. Devia ser um lugar sagrado para a família.
Não gostei ! E se foi verdadeiro.a fã da cantora, em vida, não vá !
"The film focuses on Winehouse’s early years, living in London, her rise to fame and the recording of her groundbreaking breakout studio album, the titular Back to Black."
The Hollyood Reporter
'I feel very strange. Can you please all let Amy rest?'
Miosótis (pseudónimo)
14.04.2024
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Nuno Júdice. A sua poética transborda de aromas escritos feita de sentimentos que tantas vezes nos percorrem lá no fundo da alma. Não transparecem assim tanto nas nossas palavras, mas o olhar deixa-os fugir, por vezes.
O meu poeta partiu sem pré-aviso, deixando-me quase orfã dos seus versos poético-melancólicos, reflexões meditativas, algo românticas, feitas de sobriedade e lirismo.
Cartografia de Emoções
Nuno Júdice
Publicações Dom Quixote, 2001
Cartografia de Emoções foi desde sempre o meu livro de cabeceira, juntamente com o Livro do Desassossego de Fernando Pessoa.
Leio, releio, salto versos, busco o que no momento me pede o coração...
E hoje, só me apraz reescrever...
Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.
Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.
Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.(...)
Nuno Júdice, Princípios
Miosótis (pseudónimo)
17.03.2024
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