créditos: Andre Kokn, 1972
... Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se (...)
E a chuva, quando falta muito, pede-se (...)
Fernando Pessoa
Chuva. As últimas semanas têm sido de chuva, chuva que cai intempestivamente, por vezes. Esta madrugada choveram baldes de água. Ó Deus!
Sei que é necessária. O país estava em seca quase extrema. Mas tantos dias! Tanta água caindo de nuvens espessas e cinzentonas. Um sufoco.
Outono adentrou-se abruptamente e a chuva surgiu! Esta impõe-se com uma intensidade desmesurada. Os pássaros despareceram espavoridos, tentando sacudir o peso das gotas grossas da chuva, deixando a paisagem ainda mais trostonha.
Mas, eis que surigiram dois ou três dias de sol suave em quase final de semana. As inóspitas chuvas desapareceram por breve pausa. E os olhos ainda encharcados de tanta chuva briharam na luminosidade que bailava em subjectivas formas tudo em volta.
Oh! De novo a chuva. Sem remédio.
(...)
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece… (...)
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece… (...)
Fernando Pessoa, Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
02.10.1933
in Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)
Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995)
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite con flores
15.11.2022
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