Tuesday, November 15, 2022

Chove. Há tristeza que se solta


 




créditos: Andre Kokn, 1972

... Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se (...)

Fernando Pessoa

Chuva. As últimas semanas têm sido de chuva, chuva que cai intempestivamente, por vezes. Esta madrugada choveram baldes de água. Ó Deus! 

Sei que é necessária. O país estava em seca quase extrema. Mas tantos dias! Tanta água caindo de nuvens espessas e cinzentonas. Um sufoco. 

Outono adentrou-se abruptamente e a chuva surgiu! Esta impõe-se com uma intensidade desmesurada. Os pássaros despareceram espavoridos, tentando sacudir o peso das gotas grossas da chuva, deixando a paisagem ainda mais trostonha.
 
Mas, eis que surigiram dois ou três dias de sol suave em quase final de semana. As inóspitas chuvas desapareceram por breve pausa. E os olhos ainda encharcados de tanta chuva briharam na luminosidade que bailava em subjectivas formas tudo em volta.

Oh! De novo a chuva. Sem remédio.

(...)
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece… (...)

Fernando Pessoa, Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
02.10.1933

in Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) 
Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995) 

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite con flores

15.11.2022
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