Outono, tempo preguiçoso. O dia mantém um ar morno, quase doce, sob sol semi envoado. A noite esfria. Leva-nos a abandonar a letargia e procurar agasalho aconchegante, leve.
Outono é uma nova dança da natureza. O vento espalha as folhas que bailam no ar. E mesmo quando caem, a dança continua até finalmente poisarem, quietas, nos passeios, jardins, ou ruas.
Nesse bailado, não perdem a leveza, apenas nos distraiem a alma.
Paz? Nem por isso. Outono é tempo de mudança. Tempo de repensar a vida.
Outono chega. Nessas cores tão coloridas, apenas nos perdemos na reflexão intimista. A natureza muda. E com ela, mudam os nossos ritmos. E rumos.
É tempo de espiritualidade.
Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.
Miguel Torga, in Diário X
Miosótis (pseudónimo)
09.10.2022
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