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Penso no inverno a estação que ocupa
o centro do espírito. Nas árvores mais altas
que o outono despiu.
(...)
Nuno Júdice, Outono
Poderia ser o poema que descreveria o Outono! Essa estação em que as sensações de finito se abeiram de nós e se entranham, mesmo que as queiramos distanciar.
Mas não ! O Outono transmutou-se em estio quente, noites tentadoras, roupas frescas, cores claras, cabelos que se soltam por entre os dedos, como que desfolhando doces paisagens.
No entanto, não podemos fingir que ele, o Outono não chegou. Sente-se no aroma das brisas, nas tonalidades fragmentadas de sensações quentes, na luz quase efémera que se espraia sobre o mar, no canto dos pássaros que resiste alegre ainda.
Os pássaros batem as asas, airosos, contra os ramos de onde pendem ainda folhas e alguns frutos confusos.
Vejo a luz do sol escorrer pelos dias cálidos, adiando um pouco mais aquela tristeza que o Outono traz.
Um após um, vou fruindo dos dias. Outra após outra, as noites deixam-no para trás.
Uma brisa suave atravessa esta mesa de trabalho, pejada de livros, papéis, e alguns sonhos poisados por entre livros nas estantes que a rodeiam. E fujo ao sono.
O silêncio há muito desceu sobre a cidade. A hora exala tranquilidade. Da minha janela, nas imagens que atravessam o tempo, eu deixo o pensamento transportar-me para o novo dia de sol que se vai desenhando.
As árvores, sem chuva, anunciam-me que posso adiar, por mais algum tempo, a angústia do Outono. Quanto tempo mais ?
*texto inédito intransmissível
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite com flores
15.10.2011
actualizado 21.09.2024
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