Almada Negreiros (1893-1970)
Sem título, sem data, grafite e guache sobre cartão
Colecção particular
“A vida é um dilema singelo, ou se é bigorna ou se é martelo.”
Daniel Sampaio, Tudo o Que Temos Cá Dentro
Ontem a notícia do aparecimento do corpo, nas águas do Douro, de um jovem de 16 anos. E hoje a hipótese levantada de suicídio por desgosto amoroso, leva-me a chorar este trágico desfecho.
Quando releio o que escrevi em Ah! Outono, morreste-me duas vezes, fico presa aos sentimentos que me assolavam na altura. Mas, comparando, com a dor que os pais deste adolescente sentem. Silencio.
Não há dor mais profunda que a perda de um filho. Senti o que meus pais viveram depois da morte por doença, de meu irmão mais novo, 13 anos.
Acompanhei depois alguns amigos na mesma dolorosa via de perda de filhos por doença e por suicídio. E não há palavras.
Mas, interrogo-me. E o sofrimento deste jovem? Alguém o ouviu?
Fala-se pouco no suicídio de adolescentes. E fala-se pouco com os adolescentes sobre suicídio.
Eu sei. Psicólogos consideram que falar, pode desencadear actos semelhantes. Mas cala-se a dor dos pais. E silenciam-se jovens que precisariam de ser ouvidos, acompanhados? Persegue-me esta aflição.
A adolescência é um momento de descoberta e desorientação. Um período de transição que pode trazer questões de independência, de auto-identidade.
Muitos adolescentes e seus pares enfrentam escolhas difíceis: percurso escolar, sexualidade, drogas, álcool, vida social. Grupos de pares, interesses amorosos, aparência, tendem a aumentar, naturalmente, em importância durante a viagem de um adolescente em direcção à idade adulta.
A adolescência deveria ser uma época feliz, tudo vibra em volta. A natureza, os amigos, a música, a leitura, os amores.
Adolescência deveria ser feliz, num mundo próprio de realidades simples.
Daniel Sampaio, Tudo o Que Temos Cá Dentro