"O maior erro do ser humano, é tentar tirar da cabeça aquilo que não sai do coração."
Autor desconhecido
É bom regressar a casa, em final de tarde com cheiro a calor!
Decidi afoitar-me naquela explosão de cor. O vento expulsara as nuvens e meus passos crepitavam por entre um lago de flores, amarelo cor-de-oiro, num silêncio atordoado e límpido. Aspirei com vontade de sorver as fragrâncias de um tempo que se comprometia duradoiro e quente.
Atraída e ofuscada pela cor forte, luminosa, viva, daquele campo povoado de campestres essências, caminhei!
Meus pensamentos repoisavam puros, como quem reza, num caminhar aspirado passo a passo, ritmado, leve, na terra esbatido.
A vida parecia mais tranquila. Mas eles, os pensamentos troavam, deixando-me como um bando de pássaros. Envolta numa aragem deliciosa e solta, trazia comigo o mar, poisando-o num lago. Divino espaço!
Entrara para a minha intimidade, na minha respiração. Erguera-me para a invisibilidade.
Inundados os olhos de litanias, aturdida no silêncio bucólico. A vida parecia mais tranquila! Os pássaros tilintavam em redor.
A melancolia abatia-se, mesclada de aromas de açafrão e ervas raras, numa acalmia polvilhada de sentires, naquele caminhar suspenso.
Na minha cesta poisara o lago, o mar, o ideal encantado de uma paisagem. Parecia em paz por respirar o ar de verão!Parei. E levantei os olhos cor de canela. O céu, como uma tenda de veludo azul, estendia-se por cima da minha cabeça, cor das flores. Survi, mais uma vez, todos os sentires imersos no universo...
Subi, meti a chave à porta. Corri as cortinas transparentes verde-musgo. Da pequena mas rasgada varanda airosa, pude ainda despedir-me do sol cor de sonhos que atravessava o horizonte!
Debruçada no alto da nuvem, virada para o infinito, movi os céus, a terra para chegar até ali...
Debruçada no alto da nuvem, virada para o infinito, movi os céus, a terra para chegar até ali...
"A lua subiu à minha janela, onde permaneceu sonhadora até partir. Olhei para o canto do céu iluminado pela sua passagem. Lentamente foi-se apagando e as estrelas apareceram." *
O que sonhas? - perguntei.Miosótis (pseudónimo)
Com humildade, gostaria de pedir a Art of Love que me perdoasse por responder tardiamente ao seu sensível "thinking blogger award".
E só posso agradecer tal gesto, dedicando-lhe esta divagação de afectos, mesclada de realidade e fantasia.
fragmentos da noite com floresE só posso agradecer tal gesto, dedicando-lhe esta divagação de afectos, mesclada de realidade e fantasia.
19.05.2007
* Shan Sa, As Quatro Vidas do Salgueiro,
Casa das Letras, 2005, 1ª edição