credits: Peakpx
A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida. (...)
Fernando Pessoa, A morte chega cedo
Dia cinzneto-pardo, um céu sem azul de pranto, os olhos enevoam-se de lágrimas. Tão sentidas! Tempo de murmúrios mudos. Quanta tristeza!
O silêncio poisou na paisagem. Abrupto. Uma nuvem abriu túneis sulcados de lágrimas. E as flores perderam seu encanto.
E no entanto, dia de tentativa do despertar da primavera, depois de noite chuvosa. Inóspita! Domingo triste.
As primeiras flores que despertam deixaram de ter cor. E as flores perderam a beleza.
A irmã que não tive. A amiga presente em muitos momentos. Companheira as aflições. Mútuas.
Partiu. Sem contar. De mansinho, sem uma palavra. Desfez-se num último suspiro. Na ausência de alguns que tanto amava. Filha, netos. Só o fiho sempre presente. Apanhada de surpresa, partiu.
Sensação desse desconsolo se queda em meu olhar, vago, desolado.
Minha alma chora, ainda mais orfã, neste domingo de princípio de Primavera. Lacrimosa, procuro algum sentido na ausência de um abraço. Fraterno.
Deambulo de tristeza. Entre passos e pensamentos. Um dia de silêncios.
Minha amiga, agora distante.
Miosótis (pseudónimo)
12.03.2023