Destruição em Kahramanmaras, Turquia
créditos: Abir Sultan/EPA
via Renascença
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
(...)
Vinicius de Moraes, Natal
As imagens que chegam do terramoto na Turquia e na Síria são absolutamente devastadoras. A tragédia ainda nem sequer está totalmente contabilizada, os abalos ainda se sentem, o pó do trauma ainda não assentou. Os mortos ainda se contam.
Um balanço confrangedor em paises, já de si tão sofredores. Sobretudo a Síria.
As equipas nacionais e internacinonais de busca e salvamento lutam contra o tempo para tentar salvar o maior número de pessoas presas sob os escombros.
Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
(...)
Mário Sá-Carneiro, Recreio
Mas há momentos felizes. O menino que foi salvo na Turquia pela equipa portuguesa de resgate, com auxílio de um dos cães que sinalizou o local.
Ou famíla regastada pelas equipas dos 'Capacetes Brancos' que conseguiram retirar dos escombros, mãe e três crianças, soterradas desde o primeiro sismo na Síria.
Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.
(...)
Vinicius de Moraes. Soneto da Contrição
Criança resgatada, Turquia
créditos Erdem Sahim/EPA
Não há muito a escrever sobre esta perda inimaginável de pessoas, animais e bens. Mas há muito a sentir e discernir na pequenez de todos nós perante tais forças.
O fim da ilusão que controlamos o nosso amanhã. Em um minuto, tudo mudou. A terra tremeu. Tudo isto de um segundo para outro, sem qualquer aviso.
Nunca deixaremos de ser imensamente pequenos. Vivermos num planeta em que quem manda é definitivamente a natureza. Nunca seremos pouco mais dos que fragmentos impotentes.
Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados
O esplendor do sentido nenhum da vida...
(...)
Álvaro de Campos, Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados.
in a A Partida, segundo Álvaro de Campos - Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edição Crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993
Miosótis (pseudónimo)
fragmentos da noite co flores
12.02.2022
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