Sunday, February 12, 2023

Em tempos adversos, pequenas luzes no fundo dos escombros




Destruição em Kahramanmaras, Turquia

 créditos: Abir Sultan/EPA

via Renascença


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
(...)

Vinicius de Moraes, Natal

As imagens que chegam do terramoto na Turquia e na Síria são absolutamente devastadoras. A tragédia ainda nem sequer está totalmente contabilizada, os abalos ainda se sentem, o pó do trauma ainda não assentou. Os mortos ainda se contam. 

Um balanço confrangedor em paises, já de si tão sofredores. Sobretudo a Síria.

As equipas nacionais e internacinonais de busca e salvamento lutam contra o tempo para tentar salvar o maior número de pessoas presas sob os escombros.


Na minha Alma há um balouço
Que está sempre a balouçar ---
Balouço à beira dum poço,
Bem difícil de montar...
(...)

Mário Sá-Carneiro, Recreio

Mas há momentos felizes. O menino que foi salvo na Turquia pela equipa portuguesa de resgate, com auxílio de um dos cães que sinalizou o local.





criança resgatada pela equipa portuguesa
via YouTube






Família mãe e três crianças resgatadas, Síria
créditos: REUTERS

Ou famíla regastada pelas equipas dos 'Capacetes Brancos' que conseguiram retirar dos escombros, mãe e três crianças, soterradas desde o primeiro sismo na Síria. 


Como a criança que vagueia o canto

Ante o mistério da amplidão suspensa

Meu coração é um vago de acalanto

Berçando versos de saudade imensa.

(...)

Vinicius de Moraes. Soneto da Contrição




Criança resgatada, Turquia
créditos Erdem Sahim/EPA


Não há muito a escrever sobre esta perda inimaginável de pessoas, animais e bens. Mas há muito a sentir e discernir na pequenez de todos nós perante tais forças.

O fim da ilusão que controlamos o nosso amanhã. Em um minuto, tudo mudou. A terra tremeu. Tudo isto de um segundo para outro, sem qualquer aviso.

Nunca deixaremos de ser imensamente pequenos. Vivermos num planeta em que quem manda é definitivamente a natureza. Nunca seremos pouco mais dos que fragmentos impotentes. 

Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados

O esplendor do sentido nenhum da vida... 

(...)


Álvaro de Campos, Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados.

in a A Partida, segundo Álvaro de Campos - Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edição Crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993

Miosótis (pseudónimo)

fragmentos da noite co flores

12.02.2022

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