Sophia Mello Breyner
créditos: Daniel Rocha
via Público
A respiração de Novembro verde e fria
Incha os cedros azuis e as trepadeiras
E o vento inquieta com longínquos desastres.
A folhagem cerrada das roseiras
Incha os cedros azuis e as trepadeiras
E o vento inquieta com longínquos desastres.
A folhagem cerrada das roseiras
Sophia, Novembro
«Eles escreveram, eles foram e são lidos. São estudados, são citados. Eles celebram o seu centenário entre estes primeiros dias do mês de novembro — assim, no presente, porque é preciso resistir “um pouco mais à morte que é de todos e virá” e, mesmo que se morra, “o poema encontrará uma praia onde quebrar suas ondas”.»
in Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen: A Amizade, A Obra e a Vida numa Conversa para ouvir em Cartas e Versos
Ninguém melhor para falar de Novembro do que Sophia de Mello Breyner. Nascida, neste dia, 6 Novembro, expressou Novembro tão poeticamente.
“Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter — nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite”.
Sophia, Obra Poética
Nesta semana de Novembro, nasceram dois grandes vultos das letras e cultura portuguesa. Sophia e Jorge de Sena. Celebram-se 100 anos do nascimento destes autores, em 1919.
Sophia tem com merecimento um Centenário Nacional a decorrer. Sena, com igual merecimento, a pátria amada continua a negar-lhe o reconhecimento. Até depois da morte.
Sophia tem com merecimento um Centenário Nacional a decorrer. Sena, com igual merecimento, a pátria amada continua a negar-lhe o reconhecimento. Até depois da morte.
Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Sena, A Portugal
Nem é ditosa, porque o não merece.
Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
A pouca sorte de nascido nela.
Sena, A Portugal
Jorge de Sena
créditos: Eduardo Gageiro
Escrevi sempre sem ter consciência disso, quando era criança. E por volta de quando tinha 16 anos comecei a escrever conscientemente de que escrevia”,
Sena
"Há mesmo quem compare as várias e justas celebrações do centenário de Sophia de Mello Breyner Andresen com as escassas iniciativas a propósito do centenário de Jorge de Sena, quatro dias mais velho do que Sophia."
Francisco Sarsfield Cabral
Jorge de Sena & Sophia Mello Breyner
créditos: via Público
Novembro de 1919. Apenas quatro dias separam os nascimentos de Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen, que viriam a crescer poetas. E poetas amigos, próximos, apesar dos quilómetros que os separavam.
"A verdade é que Sophia e Sena eram admiradores mútuos e grandes amigos. Em 2006 foi publicado um livro (ed. Guerra & Paz) bem interessante, com a correspondência entre ambos."
Francisco Sarsfield Cabral
O mar une-os. Talvez por isso eu os admire tanto! Não, não só. O mar foi de Sena e de Sophia, por diferentes motivos. O mar que os dois escreveram.
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
Sophia, Mar
Conheço o sal que resta em minha mãos.
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.
Sena, Conheço o Sal
É quase difícil distinguir a poesia de Sophia e Sena sobre o mar!
Estes dois grandes vultos das letras portuguesas do século XX mantiveram em vida, uma profunda amizade que ficou registada. Entre outros escritos, na correspondência regular, desde o final dos anos 50, após o exílio de Sena, e que constitui não só uma obra da literatura e da estética, como um retrato da época, até aos anos 70.
É quase difícil distinguir a poesia de Sophia e Sena sobre o mar!
Estes dois grandes vultos das letras portuguesas do século XX mantiveram em vida, uma profunda amizade que ficou registada. Entre outros escritos, na correspondência regular, desde o final dos anos 50, após o exílio de Sena, e que constitui não só uma obra da literatura e da estética, como um retrato da época, até aos anos 70.
Jorge de Sena
Correspondência de 1959-1970
editora Guerra & Paz
Aliás ando terrivelmente dispersa sem conjugar ideias.
Sophia, Correspondência
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
Jorge de Sena, Uma Pequena Luz Bruxuleantenão na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
Apagando a distância, Sena e Sophia falaram de tudo um pouco. Mas é notória a discussão em torno das suas obras e dos percursos criativos de cada um. Pelo meio das cartas surgiam, então, pedaços de poesia.
Belos instantes, neste sombrio mês de Novembro. Lembrar Sophia e Jorge de Sena!
Homenagem Google Doodle 103º Aniversário de Sophia Mello Breyner
doodler: Matthew Cruickshank
Neste dia, 06 de Novembro 2022, Google faz uma homenagem a esta grande poeta portuguesa com um Doodle alusivo à temática Mar, tão presente na sua obra
“When I die I will return to seek
The moments I did not live by the sea.”
Poem by Sophia de Mello Breyner which inspired the Doodle artwork
Fragmentos da noite com flores
Miosótis (pseudónimo)
06.11.2019
actualizado 06.11.2022
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