Saturday, October 12, 2013

Perfume de Outono




Women Portraits
Henri de Toulouse-Lautrec

De volta ao meu sítio das palavras! É sempre bom voltar! Tranquilamente, sem pressas. Apenas porque preciso escrever.

Uma névoa de Outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.(...)


Fernando Pessoa

Outono voltou! E durante uma semana aspirou-se  o tempo com aroma de um verão fora da época. Mas bom! Doce.

Um Outono que deixou as folhas tranquilamente poisadas nas ruas, soltas, folhas apenas levadas pelas brisas quase acariciadoras.

Sim, muitos domingos se sucederam àquela tarde de domingo de finais de Julho. Passeios em final de tarde, leituras leves, tempo de mar.

Em Setembro, o quotidiano. Os dias desdobraram-se em movimento constante. Nada de atropelar a vida. Apenas viver.

Mas hoje foi diferente! Outono que caia sobre as árvores, percorrendo a distância de uma primavera já longínqua. 

Sentiu-se o Outono. Senti-o logo, apenas olhando-o pela janela. Estremeci. Um arrepio mais frio percorreu-me. Sol pálido na paisagem.

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.
Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.
Mas entre mim e ver há um grande sono.
De sentir é só a janela a que eu assomo. (...)


Fernando Pessoa

Lembranças sucedem-se assim. Múltiplas imagens. Desordenadas, como o pensamento. 

Então, o tempo de escrever. Fragmentos de coisas minhas que transparecem de anseios, alguns sentires, rumo ao Inverno. 

Motivo para escrever? Não sei! Sinto que tenho dificuldade, não nego de expressar em palavras soltas aquelas pequenas coisas. Mas, mesmo assim, escrevo.
 
Precisava olhar lá longe na noite o rumo desfeito em litanias, sentir o espelhamento de meu ser. Vago. Difuso.






Sei que é uma noite de decisões. Não, não quero cair na melancolia dos pensamentos que os ventos de Inverno sempre me empurram para dentro. 

Continuo a escrever, A ouvir música. A ouvir o silêncio. Não tenho interrogações.

Deixo hoje, neste sítio um intimismo que me é peculiar. Como quem diz de si para si. Deixa. Amanhã, quem sabe se o firmamento se volta a mostrar azul! 

Amanhã, se estiver um dia igual,
Mas se for outro, porque é amanhã,
Terei outra verdade, universal,
E será como esta (...)


Fernando Pessoa, Uma névoa de Outono, o ar raro vela,
05.11.1932

Miosótis (pseudónimo) 

12.10.2013 
Copyright ©2013-fragmentosdanoitecomflores Blog, fragmentosdanoitecomflores.blogspot.com®

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Nota: Para os que não leram a justificação do meu pseudónimo, no início deste blogue, este apenas se deve a tributo de ternura a minha mãe que adorava flores de miosótis)


8 comments:

Manuel Veiga said...

perfume suave e delicado. como flor de miosótis....

(gosto desse teu registo intimista)

beijo

Mar Arável said...


... entretanto ainda não chegaram

os meus doces relâmpagos



Armando Sena said...

Outono é sinónimo de sentir.
Suave, complexo e vibrante.

Elisa T. Campos said...

Miosótis.
Sem pressa, mas você voltou.É o que importa.
Amo ler os seus textos. Aí é outono com gosto de primavera (daqui).

Dias iluminados sempre.
bjs

MS said...

Outono, como sabes, mexe sempre com a minha interioridade.

É o meu canto...

Beijo, 'Herético'
(muito obrigada pelas palavras afectuosas)

MS said...

...já chegaram e prometem instalar-se neste Outono frio, ´Mar Arável' !

Bom ler seus comentários em 'fragmentos' !

MS said...

Outono é sinónimo de paisagens intimistas... verdade, Armando.

Sensibilizada pela presença, e pelas palavras deixadas.

MS said...

Elisa,

Sempre muito bom sua presença nas paisagens de 'fragmentos' !

Sem pressa, sim, com muitas ausências também, mas sempre volto. Mesmo quando me questiono...

Sensiblizada por este 'gosto de primavera' que trouxe até aqui.
Outono triste. Mais triste ainda nesta noite de muitas mágoas para quase todos nós...

'Dias iluminados sempre'... para si também.
Beijos